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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Diga não à violência


Nos anos sessenta as pessoas da contracultura cantavam “Faça amor, não faça a guerra” como um mantra na expectativa de parar a guerra do Vietnam.  Talvez não tenhamos cantado o suficiente, pois desde então tivemos inúmeras guerras com dezenas de milhares de mortos e continuamos perdendo vidas preciosas. É preciso repetir incessantemente, diariamente junto com os terços, rosários, japa malas e cartões de ponto por todo o planeta: Faça amor, não faça a guerra. Violência gera apenas violência e o remédio é somente o amor.
A guerra parece distante para muitas pessoas que não estão nos campos de batalha, protegidas pelos mecanismos da civilização obediente. Mas nossa sociedade não elimina a guerra, apenas a circunscreve a ambientes aparentemente controlados, como presídios, trincheiras, manicômios e quartéis. A guerra que vemos à distância é a guerra deflagrada, a guerra escancarada aos olhos na Praça da Paz Celestial da China ou na vila Cruzeiro do Rio de Janeiro. Esses são apenas sintomas efêmeros da guerra contínua em que vivemos, alimentada pela violência do dia-a-dia. Não me refiro à violência dos assaltos, latrocínios e homicídos; não digo da doença mental que se consubstancia em crimes hediondos ou atentados terroristas. Falo das pequenas violências que recebemos(e revidamos, no devido tempo) no trabalho, no clube, nos transportes coletivos e na escola.
A violência nos contamina e valida a si própria como “desejo de justiça”. Nas relações sociais frequentemente nos sentimos ofendidos e em qualquer momento, de qualquer maneira, encontramos meios para realizar a justiça. Nunca somos vingativos, apenas justos. Depois de lavar as mãos, fica o sentimento de justiça feita e dever cumprido; afinal, não se leva desaforo para casa.
O que não percebemos é que estamos sempre tão certos e convictos de nossas verdades quanto nossos agressores. Um minuto depois da vingança, o agressor se transfigura em agredido e se torna, ele mesmo, instituído do direito de sua própria desforra. O ciclo não pára e a violência encontra sua escalada até o corolário da guerra armada ou da guerrilha civil. É uma ilusão imaginarmos que estaremos sempre a cavaleiro. Em um momento somos fortes, no outro somos fracos e então recebemos na medida que demos.
Os responsáveis pelas guerras somos todos nós que as alimentamos nos minúsculos gestos de condescendência, de desprezo ou de exploração do outro. Isso porque nossa felicidade não tem valores absolutos. Aprendemos que somos felizes comparados aos tantos infelizes que existem à nossa volta. Mas, preste atenção: ninguém pode ser feliz com a miséria à sua volta. Nenhuma riqueza é suficiente para trazer paz enquanto existe dor ao nosso em torno. Para ser feliz é preciso ser com todos, assumindo um compromisso com a não-violência.
Dizer não à violência é o primeiro passo para se alcançar a paz. Na verdade, ahimsa(não-violência na tradição milenar hindu) é um dos preceitos básicos do caminho espiritual. Para as tradições que valorizam a pacificação do espírito, a não-violência é uma arma poderosa capaz de mover impérios como o fez Gandhi em relação à Inglaterra. Enquanto seguimos revidando as ofensas recebidas, alimentamos a roda interminável das guerras. A Boa Nova do cristianismo foi ensinar a dar a outra face e a amar também os inimigos.
Dizer não à violência não significa tomar o caminho fácil. Significa perdoarmos a quem nos tem ofendido, sem nós mesmos cometermos uma ofensa. Assimilar o golpe do que nos parece ser uma injustiça e impedir, dessa maneira, que o processo de reciprocidade continue. É agüentar a força do danda nas costas e persistir caminhando. Mas, paradoxalmente, cada golpe que recebemos acerta em cheio nossos próprios grilhões. Acerta o nosso corpo mas destrói também as correntes do espírito, libertando-nos definitivamente. É difícil, para mim, conceber uma forma de espiritualidade que se baseie na vingança contra os inimigos espirituais, físicos ou sociais. A abstenção da violência é a única forma de dissolver a dialética opressor e oprimido. Um deus de exércitos pode ser um alívio para quem vive no medo, mas não é solução definitiva, nem ataca a raiz dos problemas.
Uma vez que dizemos não à violência, podemos dizer sim ao amor. Podemos até fazer amor para nos abstermos de fazer a guerra. Todavia, o melhor é fazer amor porque já não sabemos fazer a guerra. Respeitamos e compreendemos os outros porque já não sabemos o que é o desrespeito nem concebemos o que seja a incompreensão. Ser todo-abrangente, todo-compassivo, todo-abraçante é uma atitude interna que nos preenche o cálice da alma.
Para sermos sinceros, não conhecemos ainda todo o poder do amor. Precisamos deixar o amor crescer, florescer e frutificar para descobrir o sabor de seus pomos. Há muito tempo não sabemos de que é capaz o amor. Camões o descreveu em sonetos, Paulo de Tarso o elevou na Epístola aos Coríntios, Renato Russo juntou os dois em "Monte Castelo" e os colocou na boca dos brasileiros. Fazer amor não é o mesmo que fazer sexo. O amor não entende distinções de gênero, nem se prende a orientações sexuais. O amor não é exclusivista, nem se importa com diferenças de opiniões. O amor não precisa estar certo em discussões.
O amor espera mais dar do que receber. Mais amar que ser amado. O amor não se atém, nem se retém diante do inimigo. E desfaz o título de inimigo trocando seu nome para apenas “o outro”. Na convivência amorosa, aprendemos que a diferença é impulso para a renovação e para o crescimento conjunto. No consenso e na unanimidade não há movimento. O totalitarismo e o absolutismo são engessados e por isso não sobrevivem. A vida requer dinamismo, movimento, renovação. Tudo está em transformação.
Esquecendo a violência e incorporando o amor amplo em nossas vidas podemos encontrar soluções inesperadas e resolver problemas cataclísmicos. Nossos erros e imperfeições humanas farão com que ainda magoemos pessoas à nossa volta. Porém, se temos o amor como fundamento da ação, nossa intenção fica preservada e nossos passos podem ser corrigidos sem maiores prejuízos. Dê uma chance à paz: faça amor, não faça a guerra.

Escrito por Roger Soares   
Sáb, 27 de Novembro de 2010 15:46

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