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sábado, 31 de outubro de 2009

Birote - A história do penteado no Japão




A história do penteado no Japão

Consta no registro que no dia 20 de agosto de 1878 (ano 6 Meiji) o Imperador Meiji realizou o danpatsu (cortar o cabelo, desfazendo o chonmage, ou o penteado ao estilo antigo). Até então, ele usava o chonmage, que aos poucos foi perdendo o prestígio ante a acelerada onda de ocidentalização que assolou o Japão logo após a revolução de Meiji, levando as pessoas a cortarem o tradicional chonmage e trocar as vestimentas típicas japonesas às vestimentas e calçados ocidentais para serem mais chiques e modernos. Por outro lado, a tradição de 250 anos arraigada durante o Período Edo não se desfez tão facilmente. O danpatsu foi liberado em 1871 (ano 4 Meiji) mas antes disso, os altos funcionários do governo que eram enviados ou iam estudar nos Estados Unidos ou na Europa já adotavam o cabelo curto, surpreendendo os compatriotas ao regressar ao Japão. O corte ocidental se tornou comum entre os diplomatas e os ligados ao comércio exterior, tornando-se um símbolo do florescimento da civilização. Mas entre os populares ainda existiam os que usavam o chonmage. Dizem que devido a isso, até houve uma província que cobrasse impostos sobre o chonmage. Dizem também que os funcionários públicos percorriam toda a vila e, ao achar alguém com tal penteado, imediatamente cortavam-no. O Imperador Meiji também decidiu-se pelo danpatsu.

Os penteados dos cabelos sofreram transformações com a época. Nos tempos primitivos, o penteado visto em mitologia ou nos amuletos em forma de bonecos é um penteado masculino chamado hamizuta, que consiste em dividir os cabelos ao meio da testa, amarrando-os nas laterais da cabeça acima de cada orelha em formato de 8. Desde o Período Nara (710 a 784 d.C.) até o final do Período Muromachi (1392 a 1573 d.C.) foi adotado o sistema de utilização de kanmuri ou eboshi (tipos de chapéu que indicavam a hierarquia). Como todos os homens utilizavam esses chapéus, seus cabelos ficavam invariávelmente amarrados no alto da cabeça, não tendo então alterações nas suas formas. No período Kamakura, com as contínuas guerras civis, os samurais utilizavam com freqüência o elmo, e para evitar que os cabelos da região sobre a cabeça provocasse excesso de umidade e calor começaram a raspá-los, dando início ao sakayaki. Depois de entrar na Era Edo, os protocolos da corte e demais classes sociais se tornaram rigorosos, determinando até as cores dos cordões com que amarravam os cabelos presos: violeta para a nobreza, vermelha para os shoguns (generais), branca para os guerreiros de classe inferior. Quando este costume de raspar o alto da cabeça se espalhou entre os populares, surgiram os profissionais dessa atividade. Surgiram então em Edo centenas de kamiyuidoko, ou seja, barbeiros especializados.

Quanto ao cabelo feminino, na antiguidade usava-se cabelos lisos, amarrados ou soltos, mas no Período Nara, sob influência da China, passou a usar 2 birotes no alto da cabeça. Posteriormente, na Era Heian usou-se os cabelos lisos e soltos bem ao estilo japonês e, especialmente nas classes sociais altas o normal era tê-los com 2 metros de comprimento, sendo considerado ideal se estivessem por volta de 50cm mais longo do que a vestimenta. Porém, para as mulheres que trabalhavam, os cabelos longos não eram práticos, então prendiam-nos nas faixas ou nos cozes da vestimenta ou ainda na cabeça. Do Período Muromachi ao Período Edo, os cabelos ficaram mais curtos, e os penteados com cabelos presos passam a ser mais comuns. Essa moda começou a ser propagada pelas cortesãs, artistas de kabuki, e gravuras como ukiyo-ê, tendo perto de 300 tipos diferentes de penteado. Em 1885 foi fundada a Associação feminina de sokuhatsu (cabelos presos ao estilo ocidental) que, sob influências do danpatsu masculino defendia o fim do penteado estilo oriental e o uso do penteado ocidental. Devido a isso, até os anos 30 e 40 Meiji, a moda foi difundida desde as altas classes sociais até as camadas mais humildes. Nas Eras Taisho e início de Showa a vestimenta ocidental se generalizou e o permanente passou a ser moda no pós-guerra.

Ishi-soden - passar os conhecimentos do Tode da família secretamente apenas para o primogênito

Dentro da classe guerreira okinawana, os Peichin, havia uma regra peculiar: passar os conhecimentos do Tode da família secretamente apenas para o primogênito. Esse costume, ou regra, era chamado Ishi-soden, e é a ele que Gichin Funakoshi e outros autores se referem quando falam sobre a passagem das técnicas do Karate primitivo de forma secreta. Alguns Peichin como Sanga Sakugawa e Sokon Matsumura estudaram artes marciais na China e as trouxeram para unir estes conhecimentos ao Te e assim formular o Tode. Não terão eles criado esta regra de transmissão individual? Se pensarmos que as verdadeiras gangues de ‘boxers’ nas quais muitas escolas de Wushu eram transformadas, não é de se admirar que o Ishi-soden tenha sido uma medida preventiva para que isso não acontecesse nos Ryukyu.

Praticava-se então, durante os dois séculos seguintes, três linhas de Tode, nominadas de acordo com a localidade onde foram originadas. Eram as linhas Shuri-Te (Mão de Shuri), Naha-Te (Mão de Naha) e Tomari-Te (Mão de Tomari), que enfatizavam explosão muscular, respiração e ritmo dos movimentos respectivamente.

A partir da restauração Meiji (1868), e das diversas transformações sociais que ocorreram no período (principalmente o abandono dos costumes oriundos do período feudal controlado pelo Xogunato), o Ishi-soden foi abolido e passou a haver menos controle sobre a prática do Tode. Este podia então ser ensinado não a um, mas a um número reduzido de alunos. Surgiu nesta época o costume de se ‘entregar’ a criação (ou pelo menos o treinamento em Tode) do filho para um amigo da família.

Neste período, um dos mais eminentes mestres da arte de Okinawa, passou a trabalhar em uma forma de levar a prática do Karate ao público geral, tornando-o a disciplina a ser usada como Educação Física nas escolas. Para isto, Anko Itosu (ou Yasatsune Itosu em algumas traduções) formulou os ’Dez artigos sobre o Tode’, que bem aceitos pelos dirigentes do sistema educacional da época possibilitaram a inserção do Karate nas escolas da Prefeitura de Okinawa. Sabe-se que o próprio mestre Gichin Funakoshi aproveitou a oportunidade, já que fora educado nos clássicos chineses (Daikyo, Chukyo e Shokyo) e outras obras importantes da época por seus avós (também professores de literatura e caligrafia) para tornar-se professor. Muitos pontos interessantes relacionados a este fato, como a resistência de seu pai, que Funakoshi descreve como um descendente de samurai (no caso, talvez de Peichin) e o fato de Funakoshi ter recusado-se a ingressar na Faculdade de Medicina de uma das principais universidades japonesas para não ser obrigado a cortar o birote (nó de cabelo samurai que usava e fora proibido pela Restauração Meiji). Podemos ver como diversas mudanças sócio-culturais naquela sociedade influenciaram a vida e os costumes das pessoas, através do relato do mestre em seus livros ‘Karate-Do Nyumon’ e ‘Karate-Do: Meu Modo de Vida’. Outros grandes mestres da época, como Jigoro Kano (o fundador do Judô), também escolheram por tornarem-se professores, o que era ‘o grande lance’ pois o novo regime (Meiji) transformara esta profissão numa das mais respeitadas e rentáveis do início do século XX.

Da mesma forma que no Japão continental se usava o jargão “a educação que antes era direito único dos samurai agora será para todos membros do povo” para conquistar o apoio popular, em Okinawa se procedia de forma semelhante. O fim do Ishi-soden e a introdução do Tode nas escolas municipais foi uma forma de ganhar o povo pelo fim do ‘segredo dos Peichin’ e ganhar as autoridades pela possibilidade de promover uma educação guerreira desde a infância (a idéia principal da carta de Itosu -os 10 artigos sobre Tode- aos dirigentes do sistema educacional). Foi uma medida diretamente ligada a uma cultura de fortalecimento militar do Japão (do qual Okinawa já fazia parte totalmente) que se preparava para um embate com a Rússia.

Por fim, esta abertura cultural e o próprio desenvolvimento do Karate tomariam um caminho sem volta em direção a expansão para o Japão continental e para o Mundo. A partir da década de 1920, diversos mestres de Okinawa iriam para o Japão a fim de disseminar a arte que vinha sendo cultivada há séculos pelos Peichin. Era o cenário para a transição das ‘Mãos Chinesas’ para o ‘Caminho das Mãos Vazias’.

Embu (luta combinada entre dois ou mais karatekas, uma espécie de coreografia)

Em 1921, numa viagem do Príncipe Hirohito, a comitiva imperial acabou fazendo uma breve parada em Okinawa. Para receber o futuro Imperador, os uchinanchu (okinawanos) preparam uma grande recepção, onde, entre as atividades, estava prevista uma apresentação de Tode. Neste episódio, Gichin Funakoshi estava presente com seus alunos da escola municipal, deslumbrando o jovem príncipe com uma demonstração de Embu (luta combinada entre dois ou mais karatekas, uma espécie de coreografia).

As ótimas impressões causadas pela apresentação renderam aos okinawanos um convite para demonstrar o Tode no Japão continental, na ‘I Exibição Atlética Nacional’, evento promovido pelo Ministério da Educação do país. Naquela oportunidade, Funakoshi e seu grupo foram à Tóquio realizar uma nova demonstração para diversas autoridades do país e para o grande público.

Curioso, no episódio, foram os uniformes: hachimaki e camisetas (sim! T-shirts ocidentais!) brancas (apenas Funakoshi usou um uwagi branco), hakama pretos compridos até metade das pernas (que no período feudal designava os guerreiros de classe mediana) e longos bo.

Daí em diante Funakoshi não conseguiu mais retornar à Okinawa, sendo diversas vezes persuadido por vários grupos a permanecer no Japão ensinando Karate. Até no Instituto Kodokan, fundado por Jigoro Kano, Funakoshi-sensei permaneceu ensinando a pedido deste. Publicou ainda em 1922 seu primeiro livro: ‘Ryukyu Kempo: Karate’. Promoveu assim a mudança dos ideogramas que formavam a palavra Karate (em japonês, a pronúncia dos ideogramas para Tode também pode ser lida Karate), que significavam ‘Mão chinesa’, para Karate significando ‘Mãos vazias’. Buscava assim uma desvinculação ao país rival militar do Japão e se aproximando, assim, do Império nipônico.

Alguns anos depois, um fato acabaria estremecendo as relações entre dois grandes mestres do período: Gichin Funakoshi e Choki Motobu. Muitas lendas surgiram em torno de um episódio, onde Motobu teria derrotado um lutador russo que estava a desafiar e vencer diversos peritos em JuJutsu e outras artes japonesas em Tóquio. O que se sabe é que Motobu, já estabelecido no Japão Continental, aproveitando a onda de popularidade do Karate iniciada por Funakoshi e a falta de instrutores de Karate que suprissem essa demanda, estava em Tóquiio e acabou derrotando o lutador que, entre outras coisas, demonstrava técnicas do Sambo (uma luta de origem russa semelhante à luta livre), entortava barras de ferro no pescoço, etc. O acontecido conferiu grande fama à Motobu que passou a atrair muitos alunos.

O problema se deu quando a King Magazine publicou imagens de Funakoshi, e não Motobu, derrotando o russo. Choki suspeitou que Funakoshi fosse o mentor da alteração e teve grandes atritos com o fundador do Shotokan. De fato, em um de seus livros (Karate-Do Kyohan), Funakoshi afirma que em solo japonês só reconhecia outros dois estilos de Karate: o Goju-ryu de sensei Miyagi e o Shito-ryu de sensei Mabuni. No fim, era uma clara repulsa ao grupo de Motobu.

A partir daí diversos mestres okinawanos vieram ao Japão continental ensinar a arte e uma explosão do Karate aconteceu no país. Passados cerca de 20 anos da primeira exibição atlética onde o Karate surge para os nipônicos, se iniciava um processo de ‘modernização’ que buscaria aproximá-lo de práticas como o Judô e o Kendô, que já possuíam sistemas competitivos e eram amplamente praticadas em escolas em todo país. Apesar disso, o Karate sofreria um forte abalo, junto com tantas outras estruturas do Japão, devido aos acontecimentos da 2ª Guerra Mundial que assolaram todo o país.

Grandes Mestres do Karatê

Kanga Sakugawa (1733 - 1815)
Nascido em 1733, em Shuri, ainda jovem iniciou em 1750 seus estudos da arte marcial de Okinawa (Te) sobre a tutela de Peichin Takahara (1683-1760) de Akata.
Um Sapposhi fez com que ele conhecesse o expert em arte marcial chinesa conhecido por Kushanku, em 1756. Pelos méritos de seus serviços prestados ao rei de Okinawa, exercendo a função de Juiz de Paz, foi honrado com o título de Satunuku.
Quando Sakugawa tinha 78 anos, o jovem Sokon Matsumura veio de Shuri e pediu para que o instruísse na arte do combate. Com isso a era dos grandes mestres de Tode da escola Shorin-ryu começou. Sakugawa morreu em 7 de julho de 1815.

Sokon Matsumura (1809 - 1899)
Sokon Matsumura nasceu na vila Yamagawa (Yamagawa-cho), em Shuri, descendente de uma nobre família.
Durante sua vida Matsumura trabalhou como conselheiro e guarda costa dos últimos três Reis de Ryukyu (Sho-Ko, Sho Iku e Sho Tai). Esta posição permitiu que ele viajasse pra China e Japão para diversos locais (Fuchou, Satsuma e Fu-chien), onde estudou artes marciais: Kempo (boxe chinês) e Kenjutsu Jigen-ryu (esgrima). Devido a sua grande reputação começa a ficar conhecido como "Bushi" (o guerreiro) e torna-se em sua época o maior artista marcial de Okinawa. Notado pelo seu estudo do físico e também do metafísico, enfatizava a importância de balancear o desenvolvimento físico com a educação moral. Estudou a fundo o Confucionismo e era mestre da fina arte da caligrafia.

Anko Azato (1828 - 1914)
Azato sensei Foi um dos maiores especialistas de Tode e membro de uma família das mais respeitadas, além disso primava na Arte da Equitação, Esgrima e do manejo do Arco. Funakoshi conta sobre um conselho de seu mestre, Azato: “se o adversário não o assustar, se permanecer calmo e se procurar a brecha inevitável na defesa (...), a vitória não é tão difícil”. Mestre Azato era um tonochi (senhor de pequeno feudo).

Kosaku Matsumora (1829 - 1898)
Kosaku Matsumora foi um grande mestre do Tomari-Te, tendo estudado com Karyu Uku e Kishin Teruya. Algumas fontes apontam que é possível que tenha estudado com Sokon Matsumura, além de aprendido o estilo de esgrima japonesa Jigen-ryu. É apontado como instrutor de Choki Motobu em Tomari-Te e que sua grande vocação pelas ações promotoras da justiça ter-lhe-iam conferido o apelido ‘Primeiro Santo’.

Anko Itosu (1831 - 1915)
Itosu é considerado um dos grandes precursores dos estilos modernos. Ele foi uma espécie de figura paterna para os seus alunos, enquanto que, fisicamente, possuía um peito largo como um barril, barba e uma grande força interior.
Itosu era imensamente cauteloso, reservado e mantinha em seu dojo muita disciplina. Dentre seus amigos, Anko Azato (um mestre de Te e brilhante espadachim) achava que as mãos e os pés deviam ser como lâminas e que o contato com o oponente devia ser evitado a qualquer custo. Itosu, no entanto, achava que o corpo não precisava ser tão móvel, mas capaz de absorver os mais duros golpes.
Anko Itosu faleceu aos 84 anos, mas deixou para trás uma impressionante lista de discípulos que, a seu tempo, realizaram o seu sonho. Dentre os nomes mais famosos estão: Kentsu Yabu (1866 - 1937); Gichin Funakoshi (1868 - 1957); Chomo Hanashiro (1869 - 1945); Choshin Chibana (1885 - 1969); Kenwa Mabuni (1889 - 1952).

Seisho Aragaki (1840 - 1918)
Aragaki sensei era conhecido como o ‘velho homem’ em Okinawa. Grande conhecedor de Tode e Kobudo recebeu do governo de Okinawa o título de Chikudun Peichin, equivalente ao samurai no Japão.
É considerado o introdutor dos kata Sochin, Niseishi e Unshu. Por ser um mestre muito reconhecido, conta-se que deu lições a Kanryo HIgaonna, Gichin Funakoshi, Kenwa Mabuni e Tsuyoshi Chitose.

Kanryo Higaonna (1853 - 1915)
Kanryo Higaonna, criador do Naha-te, enriqueceu bastante o Te com o que aprendeu diretamente na China. Foi mestre de Chojun Miyagi e Kenwa Mabuni. Primeiro em Okinawa, com chineses residentes na cidade de Kume, e depois, a partir de 1874, no próprio território chinês, onde permaneceu cerca de 15 anos estudando sob a orientação de Liu Liu Ko, Higaonna aprendeu os movimentos de combate curtos e fortes típicos do Sul da China. Regressado à Okinawa após uma demonstração privada perante o Rei Sho Tei, começa a ensinar a sua arte que designa por Naha-Te. Higaonna foi um homem extremamente humilde, que recusava qualquer pagamento por suas lições de Karate, no máximo que seus alunos o presenteassem com algo simples em datas especiais. Em 1915 morreu deixando como sucessor direto Chojun Miyagi.

Kanbun Uechi (1877 - 1948)
Uechi sensei foi o fundador do Uechi-ryu, estilo originado de uma arte chinesa e que chamara Pangainun-ryu. Cresceu no vilarejo de Izumu, em Motobu, Okinawa. Com a invasão japonesa de no final do século XIX, Kanbun fugiu para a China em 1897. Na província de Fu-chien entrou em contato com as artes locais que contribuíram para o desenvolvimento de seu estilo. Ao voltar para Okinawa, já em 1910, acabou se mudando para Wakayama, onde anos depois seu filho Kanei mudaria o nome de seu estilo para Uechi-ryu. Kanei foi o responsável pela grande difusão do Uechi-ryu.

Kenchu Nakaima (1856 - 1953)
Filho de Kenri Nakaima foi o difusor de estilo Ryuei-ryu, hoje grande destaque mundial em competições de kata pelos esforços de Tsuguo Sakumoto sensei. À família Nakaima são creditados a introdução dos kata Annan, Paiku, Pachu, Heiku entre outros.

Gichin Funakoshi (1868 - 1954)
Funakoshi sensei nasceu em 1868, em Shuri. Depois de uma infância débil e doentia, o jovem Gichin passou a gozar de boa saúde devido ao treinamento em Tode que recebia todas as noites de sensei Anko Azato.
Após recusar a aprovação em Medicina numa das principais Universidades japonesas por ser obrigado a abandonar o uso do birote (nó de cabelo em estilo samurai) e outros costumes tradicionais, Funakoshi que aprendera os clássicos chineses de seus avós (instrutores da família real) tornou-se professor em Okinawa. Foi o responsável pela primeira demonstração da arte de Okinawa no Japão continental, sendo seu principal difusor, fatos que lhe conferem o ‘título’ de Pai da Karate Moderno. Funakoshi sensei passou a maior parte de sua vida no Japão, abrindo clubes de Karate em Universidades e promovendo a arte sobre a qual escreveria vários livros (entre eles: Ryukyu Karate Kenpo, Rentan Goshin Karate Jutsu, Karate-Do Kyohan, Karate-Do Nyumon e Karate-Do: Meu Modo de Vida). Graças a sua interminável disposição e bom humor era chamado Tatsujin. Foi amigo pessoal de Jigoro Kano (fundador do Judo) e Morihei Ueshiba (fundador do Aikido), que incentivavam seus alunos a visitar os dojo um do outro para ter lições. Foi mestre de Shigeru Egami, Gigo Funakoshi, Hironori Ohtsuka, Masatoshi Nakayama entre outros. Criou os kata Taikyoku, Ten no Kata, Chi no Kata e Hito no Kata.

Chotoku Kyan (1870 - 1945)
Chotoku Kyan foi aluno de Sokon Matsumura e Anko Itosu. Kyan tornou-se famoso como introdutor dos famosos kata de Karate: Bassai (Passai) e Kusanku de Shorin-ji Ryu. Kyan é uma das maiores referências do Shuri-Te e precursor de eminentes mestres como Jyoen Nakazato, Ankichi Arakaki, Shoshin nagamine e Tatsuo Shimabuku.

Choki Motobu (1870 - 1944)
Motobu sensei nasceu em 5 de Abril de 1870 na vila de Akahira, em Shuri, Okinawa sendo o terceiro filho do governador de Akahira, Chomo Motobu. Desde muito cedo Choki manifestou uma extraordinária aptidão física sendo apelidado de saru (macaco) pelos locais. Aos 12 anos começou a receber lições de Tode do seu irmão mais velho, Choyu. Também recebeu lições de Anko Itosu, e Kosaku Matsumora.
Choki Motobu publicou duas obras que lhe permitiram divulgar junto do grande público o seu conceito de Karate: Okinawa Kenpo Karate Jutsu, em 1926 e Watashi no Karate-jutsu (Minha Arte de Mãos Vazias), em 1932. Motobu foi Mestre de Shoshin Nagamine e de Yasuhiro Konishi, reconhecido pelo Dai Nihon Butokukai como um dos principais obreiros do Karate no Japão. No ano de sua morte, seu filho, Chosei, e seu principal aluno, Seikichi Uehara, fundaram o Motobu-ryu.

Choshin Chibana (1885 - 1969)
Chibana sensei foi um aluno top de Anko Itosu e fundador do estilo Shorin-ryu. Em 1933 registrou oficialmente o Shorin, Em seu programa estavam kata dentre os quais citamos Naifanchi (1 a 3), Pinan (1 a 5), Kusanku (dai) e Kusanku (sho), Passai (dai) e Passai (sho), Jion, Jitte, Sochin, Gojushiho, e Chinto.

Chojun Miyagi (1888 - 1953)
Chojun Miyagi iniciou seus treinamentos em Naha-Te com Kanryo Higaonna aos 14 anos. Após 15 anos passou um período de alguns anos na China, a pedido de seu mestre, para aperfeiçoar seu conhecimento como artista marcial. A Miyagi são atribuídos os processos de modernização do Karate-Do relativo aos estudos teóricos, tornando-o uma prática sistematizada e ligada às outras atividades atléticas, seguindo os preceitos da razão e da ciência. Em 1929 decidiu rebatizar seu estilo de Goju-ryu, retirando o nome de um dos princípios do Bubishi. É o introdutor dos kata Gekisaidai Ichi, Gekisaidai Ni, e Tensho.

Kenwa Mabuni (1889 - 1952)
Kenwa Mabuni nasceu em 14 de Novembro de 1889, na cidade de Shuri, capital da ilha de Okinawa na época. Passou a praticar o Shuri-te aos 13 anos com Anko Itosu, permanecendo sob sua tutela até o falecimento, aos 85 anos. Pouco antes da morte de Itosu, Mabuni sensei conheceu e tornou-se amigo de Chojun Miyagi, com quem passou a treinar Naha-te, incentivado pelo próprio Itosu. Através desta amizade, Mabuni pode treinar diretamente com mestre Higaonna. Em 1915 perdeu seus dois mestres, passando a ter lições com Seisho Aragaki. Fundou o estilo Shito-ryu e incentivado por Jigoro Kano, mudou-se para o Japão, aos 40 anos, para trabalhar na difusão do Karate. O falecimento de Mabuni sensei foi anunciado nas rádios da época, e ao seu enterro, em Osaka, compareceram mais de três mil praticantes de Karate-Do.

Shoshin Nagamine (1907 - 1997)
Shoshin Nagamine, o fundador do Matsubayashi-ryu, foi aluno de proeminentes mestres, como Chotoku Kyan e Choki Motobu. Para honrar o mestre de Kyan, Sokon Matsumura e o de Motobu, Kosaku Matsumora, Nagamine incluiu o caractere ‘Matsu’ (pinheiro) no nome de seu estilo. Sua idéia era utilizar movimentos muito naturais para as técncias de seu estilo e os kata que incluiu em seu programa foram: Fukyugata I, Fukyugata II, Tomari Passai, Gojyusiho, Chatan Yara no Kusanku, Tomari Chinto, Rohai, Wankan e Wanshu.

Gráficos de linhagens dos mestres de Shuri-te, Naha-te, Tomari-te e Uechi ryu podem ser conferidos no site da prefeitura de Okinawa (http://www.wonder-okinawa.jp/023/eng/index.html).

Hironori Otsuka (1892 - 1982)
Aluno de mestrre Gichin Funakoshi, e praticante de Jujutsu, Hironori Otsuka uniu seus conhecimentos de artes marciais para fundar o estilo Wado-ryu. Depois de estudar por muitos anos sob tutela de Funakoshi, Otsuka sensei decidiu separar-se da organização e fundar a sua própria escola. A influência das técnicas de Funakoshi sensei, que podem ser conferidas na obra ‘Karate-do Kyohan’, se mostram ainda muito presentes no Wado, talvez mais do que no moderno Shotokan. O estilo de Otsuka sensei valorizava principalmente as esquivas, o que é considerado uma característica das principais do estilo. Hironori Otsuka abandonou a carreira de médico para dedicar-se ao Karate-Do em tempo integral, fato possibilitado pela realidade do Japão da Era Meiji.

Gigo Funakoshi (1906 - 1945)
Filho de Gichin Funakoshi, foi o responsável por profundas transformações do Shotokan. Era o braço direito do pai, e introduziu conceitos novos, descendo o centro de gravidade das bases para uma posição mais próxima do solo, introduzindo a prática de vários kata (que ia aprender com mestres de Okinawa no lugar de seu pai no período de difusão da arte no Japão) e criando as bases para o que seriam os treinamentos de Kumite. Infelizmente, no período após a Segunda Guerra Mundial, após contrair tuberculose, Gigo Funakoshi se recusou a se alimentar da ração distribuída pelos ocupantes americanos e, enfraquecido pela doença, faleceu deixando o pai só no trabalho de difundir seu Karate.

Gogen Yamaguchi (1909 - 1989)
Estudante de direito, iniciou seus treinamentos com Chojun Miyagi aos 22 anos, após uma experiência prévia em Karate e Kendo. Empenhou-se na difusão do Karate Goju e foi escolhido como sucessor de Miyagi no Japão. Fundou a Associação Internacional Karate Goju-Kai e foi uma das figuras mais importantes na liderança da formação da Japan Federation of All Karate-Do Organizations em 1964. Morreu em 1989, com o 10º Dan em Karate, e ainda figurando com mestre de Yoga e sacerdote Shinto (práticas que influenciaram o desenvolvimetno do Goju, como exemplificado nas técnicas de ibuki –respiração– características de seu estilo).

Shigeru Egami (1912 - 1981)
Egami sensei foi dos mais antigos e importantes alunos de Funakoshi sensei, liderando, inclusive, depois da década de 1940, o segmento que se opunha as deliberações da JKA. Foi através de seu trabalho ao lado de Gigo Funakoshi que o Shotokan incorporou os trabalhos de perna (sabaki) e estratégias (Go no sen e sen no sen) do Kendo e adaptou-os a realidade e técnicas do Karate-do, formando as bases para o modo de lutar que é usado até hoje. Através de seu contato com Morihei Ueshiba (o fundador do Aikido, com quem Funakoshi sensei cultivava amizade e costumava enviar alunos para ter lições), Egami sensei adotou um pensamento mais voltado para o desenvolvimento espiritual e filosófico através do Budô, o que o fez separar-se da JKA e fundar o Shotokai, que segue, inclusive na técnica, diversos princípios do Aikido. A Egami também é atribuída a criação da técnica Toate, forma peculiar de utilizar a força vital.

Masatoshi Nakayama (1913 - 1987)
Aluno de Gichin Funakoshi, liderou a JKA desde a saída de Saigo Kichinosuke até o ano de sua morte, em 1987. Foi responsável pela grande difusão do Karate como esporte, o foco principal de sua associação. Após o período da Segunda Guerra Mundial, foi figura importante no trabalho de padronização dos kata do Shotokan, que imortalizou em suas obras ‘Katas de Karate’ (em 5 volumes) e ‘O Melhor do Karate’ (em 11 volumes). Era figura conhecida nas competições e um dos primeiros instrutores a enviar discípulos para fora do Japão a fim de promover a expansão do Karate pelo mundo.

Masutatsu Oyama (1923 - 1994)
Oyama sensei, um coreano naturalizado japonês, foi o fundador do estilo Kyokushinkaikan. Após treinar com Gichin Funakoshi (com quem diz ter aprendido o verdadeiro sentido do Karate-Do), dedicou-se à prática do estilo Goju-ryu, sob a tutela de Gogen Yamaguchi (de onde cita ter tirado as raízes espirituais de sua arte). Fundindo os princípios e kata destes estilos, além de incorporar interpretações próprias às técnicas, criou o Kyokushin. Ficou famoso internacionalmente pelas demonstrações onde matava touros com golpes de mãos nuas e suas diversas demonstrações de tameshiwari (quebramentos). Sua figura é até hoje inspiração para legiões de karate-ka e sua história um exemplo de superação e disciplina, como a de seus mestres e tantos outros karate-ka vindos de Okinawa ou nascidos no Japão na mesma época.

Hidetaka Nishiyama (1928 - 2008)
Nishiyama sensei é apontado como um dos mais habilidosos karate-ka de sua época, então aluno de Funakoshi e depois de Nakayama sensei. Em 1951 forma-se mestre em economia pela Universidade de Takushoku, época em que passa a ensinar nas forças armadas norte-americanas. Fundou também a All American Karate Federation e a International Traditional Karate Federation. Envolveu-se também no episódio que no fim da década de 1990 quase tirou do Karate a chance de tornar-se reconhecido pelo COI, devido a suas concepções adversas ao modelo de competição então estabelecido. Faleceu em 2008, deixando a ITKF e seu livro ‘The Art of Empty Hand’ como o livro de Karate mais vendido da história (com mais de 70 edições).

Hirokazu Kanazawa (1931 -)
Um dos mais famosos karate-ka do estilo Shotokan, foi atuante na difusão do Karate mundialmente. Além de ter sido modelo para as fotos dos livros de autoria de Masatoshi Nakayama, Kanazawa sensei sempre foi reconhecido por suas habilidades no Kumite e pela publicação de obras diversas que elucidavam em muitos suas técnicas diferenciadas. Criou ainda a organização ‘Shotokan Karate International’ (SKI) que atua até hoje difundindo suas teorias e ensinamentos.

Ritsu-rei - Etiqueta utilizada no karatê - 02

Cumprimento Inicial: em pé – Ritsu-rei
(pronúncia: ritsu-ree)

Flexão de coluna à frente de 30º, mantendo a coluna ereta de forma harmônica, o movimento se á apenas na base da coluna. O olhar tranquilo não se mantém a frente, o que causaria movimento desarmônico na coluna cervical.
Após a saudação, ao receber o comando de preparação (Yoi!) o praticante se coloca em posição natural/ de alerta (Shizen Tai).


Saudações no Ritual de Cumprimento

1ª Saudação: ao fundador ou à assistência: Shomen-ni Rei
(em silêncio)

2ª Saudação: ao professor: Sensei-ni Rei
(Pronuncia-se o ‘OSu’)

3ª Saudação: aos colegas: Otagai-ni Rei
(Pronuncia-se o ‘OSu’)


Saudações ao finalizar um exercício

Toda vez que um exercício é encerrado, o instrutor profere dois comandos: Yame (parar) e Yasume (descansar)

Ao comando de parada os alunos retomam a posição de alerta natural (Shizen-Tai), e ao receber o comando para descansar, antes de relaxar, os alunos realizam o cumprimento em pé (ritsu-rei), para então poderem descansar. A saudação conota o agradecimento pelo conhecimento recebido do Sensei.


Saudação ao colega

Na prática dos exercícios de luta (kumite), ao posicionar-se frente à frente com um colega, deve-se realizar o ritsu-rei (saudação em pé) toda vez que for dado início ao exercício ou quando este acaba. O mesmo deve acontecer numa competição, onde os adversários se saúdam no início e no final de cada disputa.


Entrada e saída do Shiai-jo

O Shiai-jo (área de treinamento), o local do Dojo (academia ou salão de treinamento e desenvolvimento espiritual) onde são realizados os treinos das técnicas e onde estão instalados os tatames, deve ser tratado com o devido respeito. A entrada e saída do Shiai-jo deve ser feita com o ritsu-rei (cumprimento de pé) e de forma que, para entrar se pise primeiro com o pé direito nos tatames e para sair se pise primeiro com o pé esquerdo fora dos tatames. O caminhar fora dos tatames deve ser feito com o zori (chinelo), ou outro calçado que evite que sujeiras sejam trazidas ao Shiai-jo.


Alguns aspectos da competição

Saudação
A saudação em pé (ritsu-rei) é realizada no início das categorias, no início de cada disputa, ao término de cada disputa e ao término de cada categoria. Os árbitros sinalizam o momento apropriado para realização da saudação e esta ocorre também durante a abertura oficial.

Zanshin
O estado de alerta, concentração e foco de atenção (zanshin) deve ser demonstrado durante toda competição pelo karate-ka como sinal de sobriedade e comprometimento com o evento. Falta de zanshin acarretará derrota no kata e possivelmente desclassificação no kumite antes do fim da disputa. Esta atitude também deve ser perseguida em todos os treinamentos, onde o karate-ka realmente pode cultivá-la.

Zazen e Mokuso - Saudação no Karatê

Zazen e Mokuso

Mokuso é o comando para a prática de meditação/internalização no Karate. Geralmente realizado junto ao ritual de início e término da sessão de treinamento, é o momento onde se reflete sobre as ações antes do treinamento (o dia-a-dia) e dentro do treinamento (keiko). É um exercício deveras importante para acalmar o corpo e prepará-lo para iniciar uma nova prática. Numa prática mais ostensiva da meditação, o seu real objetivo pode ser alcançado, e este é o estado mental chamado Mushin (mente liberta).
A prática deve ser realizada de forma que busquemos esvaziar a mente de pensamentos, (mesmo que isso seja difícil, o objetivo maior leva a sucesso em tarefas não menos importantes) de imagens ou sons que circulem pela mente. No início deve-se colocar no ponto de vista do observador (como se fôssemos realmente um observador externo, como se assistíssemos a um programa de televisão), percebendo a gama de pensamentos que viajam pela mente. Com o tempo, após reconhecer estes pensamentos devemos procurar 'deletar' aqueles que percebemos inadequados, mantendo apenas os que servem para a tarefa a ser realizada a seguir. Apesar de estarmos tratando de Karate-Do, e por isso mesmo no momento em que nos propomos a meditar no início dos treinamentos buscamos preservar apenas os pensamentos relativos aos exercícios que praticaremos, não é menos importante 'limpar' a mente de pensamentos inadequados em qualquer tarefa do dia que estivermos realizando. É esta falta de habilidade em nos concentrarmos e focalizarmos nossa atenção apenas no que é importante que diversas pessoas sofrem de 'transtornos e atenção' e vários outros 'males' da 'vida moderna'.

Além disso, o ibuki (respiração) adequado é necessário. Assim, emprega-se em geral uma regra para aprender o ritmo que depois torna-se natural. Neste ritmo, inspira-se pelas narinas por quatro segundos, segura-se o ar por um segundo e expira-se pela boca por mais quatro, mantendo-se mais um segundo ‘esvaziado’. Pessoas com mais prática chegam a ficar até 10 segundos (às vezes mais) realizando as fases de expiração/inspiração, devido a seu elevado poder de ventilação pulmonar.
Durante a prática, a atenção deve se voltar para o fluxo de energia no hara (abdômen), e a postura deve ser a mais harmônica possível.

Cumprimento Inicial: sentado – Za-rei - Etiqueta do Karatê

Cumprimento Inicial: sentado – Za-rei
(pronúncia: dzá-rê)

Para iniciar o ritual de saudação, após o alinhamento dos alunos, o professor comandará ‘Seiza’! (sentar-se).

1 – Kamiza – o local à fente do Shomen (onde fica o retrato do fundador ou outros adornos). É o lugar onde o professor (sensei) se coloca.
2 – Shimoza – o local onde os alunos com graduação kyu (mudansha) perfilam em ordem de faixas.
3 – Joseki – é o local onde os alunos yudansha (faixas pretas) ou alunos adiantados se sentam.
4 – Shimozeki – é a extremidade contrária ao Joseki, onde os alunos mais novos devem estar.

Da mesma forma que no cumprimento em pé (ritsu-rei), quando o za-rei é realizado, são pronunciados os mesmo comandos: Shomen-ni-rei (saudação ao fundador ou ao público), Sensei-ni-rei (saudação ao professor) e Otagai-ni-rei (saudação entre os colegas). A primeira flexão é feita em silêncio e as outras duas são seguidas da verbalização ‘OSU’!

Após a realização do ritual, o professor comanda ‘Kiritsu’! (levantar-se). Depois de todos os alunos porem-se em pé, é feita uma última vez uma saudação ritsu-rei.

Sa-za-u-ki - Etiqueta do Karatê

Sa-za-u-ki (forma correta de sentar e levantar)

No Karate, como em outras artes marciais japonesas, o modo correto de sentar e levantar são muito importantes, fazendo parte do ritual de início e término dos treinamentos. É um conhecimento que demonstra não apenas o respeito pelas tradições e pelos colegas, mas também o refinamento da etiqueta pessoal, junto de todos os outros cuidados já citados que vem sendo cultivado desde o período dos primeiros guerreiros do Japão.

Para sentar, o pé esquerdo é levado atrás, colocando-se primeiro o joelho esquerdo no chão. Depois disso o joelho direito repousa no solo, e se senta sobre os calcanhares, com as pontas dos dedos hálux se tocando.

Os homens devem sentar com os joelhos afastados, repousando as palmas das mãos sobre as coxas, com as pontas dos dedos para dentro.
As mulheres, por sua vez, posicionam os joelhos de forma que os mesmos se toquem e apontem para frente, repousando as mãos sobre os joelhos com as pontas dos dedos para frente.

Para levantar, o joelho direito é erguido antes e no movimento de levantar é que o joelho esquerdo é erguido e o pé alinhado com o direito. Deve-se passar da posição seiza (sentado), diretamente à posição de ritsu-rei (em musubi dachi) para realização das últimas reverências.

Jion, Ji'in, Jitte, Chinte - Kata de Karatê

Jion, Ji'in, Jitte, Chinte

Uma importante simbologia dentro dos Kata Jion, Ji'in, Jitte e Chinte é oriunda de seu gesto técnico de abertura e finalização. Esse gesto, onde uma mão fechada é coberta pela outra mão, remete a um cumprimento chinês, que representava na antiguidade ‘respeito aos sábios e aos homens das artes marciais’, onde a mão cerrada simbolizava os guerreiros e a mão aberta, que a cobria, os sábios. Com a ascensão do Império Ming (1368 d.C. a 1644 d.C., período em que Okinawa era um Estado vassalo a esse Império), esse gesto mudou de significado. A partir de então, a mão curvada representava o dia e a mão cerrada representava a Lua, os símbolos usados no ideograma para Ming. A ascensão da dinastia Ming foi importante para a China, pois representou o fim da dinastia Yuan, através da qual os mongóis governavam o ‘país do meio’. Vale lembrar que foi exatamente no período desta dinastia que militares como Kung Sian Chun (Kushanku) estiveram em Okinawa nos Sapposhi, ensinando artes marciais. Entendemos, portanto, que esse gesto é mais uma alegoria que corrobora para percebermos a grande influência do Quan Fa chinês no desenvolvimento do Karate-Do, pois um gesto da etiqueta das artes marciais chinesas ainda está presente nos Kata de Karate, mesmo após um longo processo de ‘niponização’ da arte.

Ritsu-rei - Etiqueta utilizada no karatê

Ritsu-rei

Esse movimento característico surgiu no Japão apenas depois de 1200 d.C., com a solidificação de uma classe social chamada Buke. O Buke era formado pelos Bushi (os guerreiros). Após diversos acontecimentos importantes (um processo que levou alguns séculos) esta classe guerreira tornou-se de longe a mais poderosa do país, tendo inclusive direitos assegurados pela lei como o de matar qualquer um que desrespeitasse um de seus membros. Os “samurai” (termo oriundo da expressão hira-zamourai que surgiu muito depois de Bushi e não era muito usado) controlavam o Japão. Devido a esse poder ameaçador, garantido por lei, todas as pessoas de outras classes deviam prostrar-se perante um Bushi, fazendo exatamente o mesmo gesto que fazemos até hoje numa sessão de treinamento ou competição de arte marcial japonesa. A flexão de coluna à frente, acompanhada por um olhar de recolhimento, era a forma que os populares tinham de dizer ao guerreiro: ‘Confio-lhe minha vida, portanto se desejares decapita minha cabeça.’ E ai de quem não se prostrasse diante de um guerreiro que tinha conseguido uma lâmina nova e estava louco para testá-la...
Ritsu-rei é, portanto, uma alegoria que nos remete à repressão dos samurai (ou melhor, dos Bushi, membros do Buke) à população, em especial aos heimin (camponeses).

Hirokazu Kanazawa

Hirokazu Kanazawa (1931 -)
Um dos mais famosos karate-ka do estilo Shotokan, foi atuante na difusão do Karate mundialmente. Além de ter sido modelo para as fotos dos livros de autoria de Masatoshi Nakayama, Kanazawa sensei sempre foi reconhecido por suas habilidades no Kumite e pela publicação de obras diversas que elucidavam em muitos suas técnicas diferenciadas. Criou ainda a organização ‘Shotokan Karate International’ (SKI) que atua até hoje difundindo suas teorias e ensinamentos.

Hidetaka Nishiyama

Hidetaka Nishiyama (1928 - 2008)
Nishiyama sensei é apontado como um dos mais habilidosos karate-ka de sua época, então aluno de Funakoshi e depois de Nakayama sensei. Em 1951 forma-se mestre em economia pela Universidade de Takushoku, época em que passa a ensinar nas forças armadas norte-americanas. Fundou também a All American Karate Federation e a International Traditional Karate Federation. Envolveu-se também no episódio que no fim da década de 1990 quase tirou do Karate a chance de tornar-se reconhecido pelo COI, devido a suas concepções adversas ao modelo de competição então estabelecido. Faleceu em 2008, deixando a ITKF e seu livro ‘The Art of Empty Hand’ como o livro de Karate mais vendido da história (com mais de 70 edições).

Masutatsu Oyama

Masutatsu Oyama (1923 - 1994)
Oyama sensei, um coreano naturalizado japonês, foi o fundador do estilo Kyokushinkaikan. Após treinar com Gichin Funakoshi (com quem diz ter aprendido o verdadeiro sentido do Karate-Do), dedicou-se à prática do estilo Goju-ryu, sob a tutela de Gogen Yamaguchi (de onde cita ter tirado as raízes espirituais de sua arte). Fundindo os princípios e kata destes estilos, além de incorporar interpretações próprias às técnicas, criou o Kyokushin. Ficou famoso internacionalmente pelas demonstrações onde matava touros com golpes de mãos nuas e suas diversas demonstrações de tameshiwari (quebramentos). Sua figura é até hoje inspiração para legiões de karate-ka e sua história um exemplo de superação e disciplina, como a de seus mestres e tantos outros karate-ka vindos de Okinawa ou nascidos no Japão na mesma época.

Masatoshi Nakayama

Masatoshi Nakayama (1913 - 1987)
Aluno de Gichin Funakoshi, liderou a JKA desde a saída de Saigo Kichinosuke até o ano de sua morte, em 1987. Foi responsável pela grande difusão do Karate como esporte, o foco principal de sua associação. Após o período da Segunda Guerra Mundial, foi figura importante no trabalho de padronização dos kata do Shotokan, que imortalizou em suas obras ‘Katas de Karate’ (em 5 volumes) e ‘O Melhor do Karate’ (em 11 volumes). Era figura conhecida nas competições e um dos primeiros instrutores a enviar discípulos para fora do Japão a fim de promover a expansão do Karate pelo mundo.

Shigeru Egami

Shigeru Egami (1912 - 1981)
Egami sensei foi dos mais antigos e importantes alunos de Funakoshi sensei, liderando, inclusive, depois da década de 1940, o segmento que se opunha as deliberações da JKA. Foi através de seu trabalho ao lado de Gigo Funakoshi que o Shotokan incorporou os trabalhos de perna (sabaki) e estratégias (Go no sen e sen no sen) do Kendo e adaptou-os a realidade e técnicas do Karate-do, formando as bases para o modo de lutar que é usado até hoje. Através de seu contato com Morihei Ueshiba (o fundador do Aikido, com quem Funakoshi sensei cultivava amizade e costumava enviar alunos para ter lições), Egami sensei adotou um pensamento mais voltado para o desenvolvimento espiritual e filosófico através do Budô, o que o fez separar-se da JKA e fundar o Shotokai, que segue, inclusive na técnica, diversos princípios do Aikido. A Egami também é atribuída a criação da técnica Toate, forma peculiar de utilizar a força vital.

Gigo Funakoshi

Gigo Funakoshi (1906 - 1945)
Filho de Gichin Funakoshi, foi o responsável por profundas transformações do Shotokan. Era o braço direito do pai, e introduziu conceitos novos, descendo o centro de gravidade das bases para uma posição mais próxima do solo, introduzindo a prática de vários kata (que ia aprender com mestres de Okinawa no lugar de seu pai no período de difusão da arte no Japão) e criando as bases para o que seriam os treinamentos de Kumite. Infelizmente, no período após a Segunda Guerra Mundial, após contrair tuberculose, Gigo Funakoshi se recusou a se alimentar da ração distribuída pelos ocupantes americanos e, enfraquecido pela doença, faleceu deixando o pai só no trabalho de difundir seu Karate.

História do Karatê - Shorei-Kan - Herença Chinesa

Shorei-Kan

Com o advento da filosofia Taoísta na China, especialmente através da obra de Lao Tzu, desenvolveu-se uma forma diferente de ver o mundo. Esta visão baseava-se na compreensão dos aspectos Yin (suave, feminino, negativo, ondulatório) e Yang (duro, masculino, positivo, partícula) da energia C’hi (Ki em japonês) e suas manifestações na realidade. O objetivo dessas práticas era essencialmente descobrir o lugar do homem no Universo e a pureza original do ser humano. A partir do empenho de diversos mestres eremitas que vagavam pelo ‘país do meio’ desde aproximadamente 300 d.C. divulgando o Tao Te Ching, foram estruturadas e desenvolvidas as artes suaves da China.
Tendo essas técnicas evoluído para os estilos internos (ou suaves), desenvolveram-se estilos como Hsing-I, Pakua, Noi Kun e Taichi Chuan, que exportados para Okinawa, passaram a ser conhecidos como Shorei-kan. Ou seja, Shorei no Karate-Do são as manifestações da união dos estilos internos do Wushu Chinês ao Te de Okinawa. Desta fusão procedem as técnicas predominantes em estilos oriundos do Naha-Te.

Em seu livro ‘Karate-Do Nyumon’ o mestre Gichin Funakoshi chama atenção para o fato de que se deve cultivar equilibradamente os aspectos Shorin e Shorei da arte.

História sobre Karatê - Shorin-Kan Herança Chinesa

Shorin-Kan

Na China desenvolveram-se duas formas de praticar formas de luta organizadas. A mais antiga, remete a um jogo sangrento chamado Go-Ti, criado por um igualmente sangrento ‘senhor da guerra’ chamado Chi-yu há cerca de 2600 anos. Militarmente, a origem da organização guerreira para proteção dos castelos, fortificações, templos e para expansão militar remete às ações do Imperador de Huan Ti (o famoso Imperador Amarelo, que reinou entre 140 e 87 a.C.). Neste período foi formada uma classe guerreira na China que praticava manobras em massa e técnicas de luta com lanças e bastões. Séculos depois, por volta de 520 d.C. Surge o monge indiano Ta Mo Lao Tsu, que vindo da China, estabeleceu-se no Mosteiro Songshan Shaolin, na província de Wei. Conta a lenda que este monge, então chamado Bodhidharma, teria introduzido diversos exercícios respiratórios e corporais (semelhantes à Yoga) além das tradições do Budismo. Com isto, Bodhidarma (ou Bodai Daruma, em japonês) foi duplamente importante para as artes marciais, pois teria fundado não apenas o estilo de luta de Shaolin como também seria o primeiro patriarca do Zen Budismo.
Tendo as técnicas de Bodhidharma evoluído para os estilos externos (ou duros), saindo do Shaolin primordial para tantos outros como Wing Tsun, Hung Gar e as versões modernas de Shaolin, também esta escola foi exportada para Okinawa, onde passou a ser conhecida como Shorin-kan. Ou seja, Shorin no Karate-Do são as manifestações da união dos estilos externos do Wushu Chinês ao Te de Okinawa. Desta fusão procedem as técnicas predominantes em estilos oriundos do Shuri-Te.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

RESUMO DO KARATE SHOTOKAN

O estilo Shotokan caracteriza-se por bases fortes e golpes no corpo inteiro. Os giros sobre o calcanhar em posição baixa dão fluidez ao deslocamento e todo movimento começa com uma defesa. Este é um estilo em que as posições têm o centro de gravidade muito baixo, e em que a técnica de um "simples" soco directo, pode nunca ser dominada, e só o é com muitos anos de treino, mas quando a técnica é dominada o seu poder é incrível e quase sobre-humano. No karatê shotokan são levados a sério fatos como a concentração e o estado de espírito, pois sem concentração e um estado de espirito leve mas determinado a técnica de pouco serve, devendo estes dois atributos expandirem-se com a pratica e determinação. As principais bases do estilo Shotokan são: HEIKO-DACHI, KAKE-DACHI, KIBA-DACHI, KOKUTSU-DACHI, TSURUACHI-DACHI, MUSUBI-DACHI, NEKOASHI-DACHI, SANCHI-DACHI, SHIKO-DACHI, UCHINACHIJI-DACHI E ZENKUTSU-DACHI. Sendo que as bases fundamentais, presentes na maioria dos katas são: Zenkutsu-dachi, Kokutso-dachi e Kiba-dachi.
Possui 26 kata (ou forma, trata-se de uma sequencia de movimentos contra 4 ou mais adversários executados de tal forma sincronica), seguindo ainda um método de ensino que divide a aula em três partes (o já citado kata, o kumitê e o kihon.).
Os kata auxiliam o iniciante a assimilar o estilo e aprender as técnicas básicas de movimentar-se, defender-se e atacar. Para o avançado os kata são um confronto com as ideias dos antigos mestres, nestes confrontos os atuais praticantes entendem os segredos da arte, que só são aprendidos mediante prática exaustiva e não oralmente.

O karatê Shotokan está dividido em 8 faixas (obi) num total de 17 níveis (7 kyu + 10 dan), cada faixa para ser adquirida, necessita-se de um kata (forma de combate imaginando oponente):

Branca kata: Heian Shodan (7° Kyu)

Amarela kata: Heian nidan (6° Kyu)

Vermelha kata: Heian sandan (5° Kyu)

Laranja kata: Heian yondan (4° Kyu)

Verde kata: Heian godan (3° Kyu)

Roxa kata: tekki shodan (2° Kyu)

Marrom kata: bassai dai(1° Kyu)

Preta Kata: tekki nidan, tekki sandan, Kanku dai, unsu, Jion e Enpi (1° ao 10° Dan)


Para cada nível existe um tipo diferente de kata, kumite e kihon a ser aprendido pelo praticante, excepto a partir do 1º Dan, no qual apenas a kata e o kihon mudam. Salvo que não existe kata para uma determinada faixa em especifico, apenas um ordem no aprendizado inicial de cada um.
Kyu significa classe, sendo que essa classificação é em ordem decrescente. Na classificação de faixas pretas, Dan significa grau, sendo a primeira faixa preta a de 1º Dan, a segunda faixa preta 2º Dan e assim por diante em ordem crescente. Em um plano simbólico, o branco representa a pureza do principiante, e o preto se refere aos conhecimentos apurados durante anos de treinamento.

DOJO KUN

HITOTSU - JINKAKU KANSEI NI TSUTOMURU KOTO - Esforçar-se para formação do caráter!
HITOTSU - MAKOTO NO MICHI O MAMORU KOTO - Ser fiel ao verdadeiro caminho da razão!
HITOTSU - DORYOKU NO SEISHIN O YASHINAU KOTO - Criar o intuito de esforço!
HITOTSU - REIGI O OMONZURU KOTO - Respeitar, acima de tudo!
HITOTSU - KEKKI NO YU O IMASHIMURU KOTO - Reprimir o espírito de agressão!

NIJU KUN

O Niju Kun é a síntese do pensamento de Funakoshi sobre como deve ser o espírito do praticante de karate. São vinte preceitos cujo propósito é dar subsídios à cerca da prática cotidiana do karate, servindo também como um guia para o autoconhecimento.
O karate começa e termina com saudação (rei);
No karate não existe atitude ofensiva;
O karate é um assistente da justiça;
Antes de julgar os demais, procure conhecer a si mesmo;
O espírito é mais importante do que a técnica;
Evitar o descontrole do equilíbrio mental;
Os infortúnios são causados pela negligência;
O karate não deve se restringir ao dojo;
O aprendizado do karate deve ser perseguido durante toda a vida;
O karate dará frutos quando associado à vida cotidiana;
O karate é como água quente. Se não receber calor constantemente esfria;
Não alimentar a idéia de vencer, pense em não ser vencido;
Adaptar sua atitude conforme for o adversário;
A luta depende do manejo dos pontos fracos (kyo) e fortes (jitsu);
Imagine que os membros dos adversários são como espadas;
Para o homem que sai do seu portão, há milhões de adversários;
No início seus movimentos são artificiais, mas com a evolução tornam-se naturais;
A prática de fundamentos deve ser correta, porém sua aplicação é diferente;
Não esqueça de aplicar: (1) alta e baixa intensidade de força, (2) expansão e contração corporal e (3) técnicas lentas e rápidas;
Estudar, praticar e aperfeiçoar-se sempre.

O Significado de OSS

OSS (cuja a transcrição exata do japonês é OSU) é uma expressão fonética formada por dois caracteres. O primeiro caracter "osu" significa literalmente "pressionar", e determina a pronúncia de todo o termo. O segundo caracter "shinobu" significa literalmente "suportar".
A espressão OSS foi criada na Escola Naval Japonesa, e é usada universalmente para expressões do dia-a-dia como "sim", "por favor", "obrigado", "entendi", "desculpe-me", para cumprimentar alguém, etc., bem como no mundo do Karate para quase qualquer situação onde uma resposta seja requerida. Para um karateka, OSS é a palavra mais importante.
A palavra OSS implica em pressionar a si mesmo ao limite de sua capacidade e suportar. OSS significa, de uma maneira mais simples, "perseverança sob pressão". É uma palavra que por si só resume a filosofia do Karate. Um bom praticante de Karate é aquele que cultiva o "espírito de OSS". OSS não deve ser dito de forma relaxada, usando apenas a garganta, mas, como tudo no Karate, deve ser pronunciado usando o "hara" (tanden). Pronunciado durante o cumprimento, OSS expressa respeito, simpatia e confiança no colega. OSS também diz ao Sensei que as intruções foram compreendidas, e que o estudante irá fazer o melhor para seguí-las
Sua aplicação, na maioria dos caso é a segunte: 01- Ao chegar e ao sai do Dojo: O karateca ao chegar na entrada do dojo assume a posição de cumprimento em pé (Ritsurei), pronuncia vigorosamente a palavra "OSS!", para avisar ao Sensei(instrutor chefe ou o presente), aos Senpai(mais graduados ou mais antigos)e Kohai (menos graduados ou menos antigos) de sua chegada ou saida, quando o dojo estivber vazio o karateca o faz em respeito ao dojo a ao Mestre Funakoshi (tratando-se de Saudação Simbólica). 2- Quando do encontro com outro colega karatê: A saudação "OSS!" é a que deve chegar primeiro, de maneira vigorosa e com vivacidade, partindo sempre do Kohai(menos graduados ou menos antigos) para o Senpai(mais graduados ou mais antigos), o aperto de mãos que vem em seguida já se procede de maneira contrária, sendo assim, do Senpai para o Kohai, claro, o Sempai não se negara a apertar a mão do Kohai caso o mesmo venha e estender a mão primeiro. Obs. A saudação "OSS!" é impessoal, independe do grau de simpatía entres os karatecas, quando um deles se nega, por qualquer motivo, a responder a saudação o mesmo esta sujeito as sansões diciplinares prevista no regimento interno de sua academia, por não condizer essa atitude com a filosofia do KARATÊ-DO, seja qual estilo for...

Kihon

Os fundamentos técnicos do karate são passados aos alunos através dos treinamentos de kihon, porém, no início, tais princípios eram repassados por intermédio dos kata. É no kihon que o praticante irá desenvolver todo o seu potencial para a arte marcial, bem como preparar o seu corpo para as agruras que virão com o passar dos anos de treino.
É também no kihon que o praticante desenvolve o espírito de karateca, pois este é o momento onde os princípios do dojo kun são postos à prova real e o corpo irá padecer caso o espírito seja fraco ou o desejo de ser karateca não seja verdadeiro. O caminho do karate é vislumbrado pela primeira vez durante os exercícios de kihon e o sentimento de dever cumprimento se manifesta com maior intensidade, mesmo quando o corpo está exausto e quase sem forças para andar.

Kumite

KUMITE Significa luta, combate. É a aplicação prática das técnicas do Karatê diante de um adversário real.
Seu objetivo é demonstrar a efetividade tanto das técnicas de ataque como de defesa. Os pontos importantes a se observar no trabalho do Kumite são: distância, velocidade, reação, antecipação, controle e correta aplicação de ataque e defesa.
O kumite permite desenvolver a tática e a estratégia. Seu aprendizado é progressivo e inclui:

KIHON KUMITE: Combate básico.
GOHON KUMITE: Combate a cinco passos tem por objetivo fortalecer o vigor dos praticantes através de seqüências de ataca e defesa. O gohon kumite deve ser praticado a exaustão, procurando realizar cada movimento com a maior precisão e fidelidade possível.
SANBON KUMITE: Combate a três passos, tendo por objetivo aumentar a agilidade de quem ataca e de quem defende. Deve ser executado com a máxima intensidade e velocidade de movimentos, pois só assim o controle necessário ao domínio das técnicas utilizadas poderá ser alcançado. O corpo deverá trabalhar como uma unidade que se desloca pela área de combate.
KIHON IPPON KUMITE: Combate básico.
IPPON KUMITE: Combate a um passo, tendo por objetivo criar no praticante a idéia de vencer com um único golpe para isso é necessário o desenvolvimento de habilidades acessórias, como observação, para análise das situações. A noção de espaço e tempo (maai em japonês) torna-se fator preponderante, bem como o conhecimento real do próprio corpo e de seus limites físicos e mentais.
JYU IPPON KUMITE: Combate semilivre a um único golpe, tendo por objetivo favorecer o desenvolvimento de vivências corporais nas situações de luta real e assim preparar o corpo e a mente para as mesmas.
SHIAI KUMITE: Combate com regras oficiais e tempo definido (luta de competição).
JYU KUMITE: Combate livre, sem regras, uso livre de todo o tipo de técnica, tanto de braços como de pernas, luxações, projeções, estrangulamentos, etc.
Todos com ataques, defesas e zonas de ataque definidas.

Kata do Estilo Shotokan

Os KATA são a essência do estilo de karatê, neles estão contidas as técnicas de grandes mestres. Cada kata representa uma situação diferente pela qual o carateca esta passando. Sendo que os kata só terão o seu significado realmente compreendido por aquele que os pratica com maior frequencia, um grande mestre do passado disse que um kata só deve ser mostrado a outros quando ele for praticado 10.000 vezes, com uma pratica dessa quantidade pode realmente alcançar o real significado de cada técnica contida no kata e não a simples ordenação dos movimentos, pois o kata não deve ser dublado e sim vivido, deve-se incorporar a situação para que ele possa vir a ter um proveito real para o praticante.

1. Para cada kata, o número de movimentos é fixado, eles tem que ser executados na ordem correta.
2. O primeiro movimento e o último movimento de cada Kata tem de ser executados no mesmo ponto da linha de atuação, ela tem formas variadas, dependendo do Kata, como linha reta, forma de T, forma de I, e assim por diante.
3. Há Kata que precisam ser aprendidos e outros que são opcionais. Os primeiros são os cinco Kata Heian e os três Kata Tekki. Os últimos são: Bassai, Kanku, Empi, Hangetsu, Jitte, Gankaku e jion. Os outros Kata são: Meikyo, Chinte, Nijushiho, Gojushiho, Hyakuhachiho, Sanchin, Tensho, Unsu, Sochin e Seienchin.
4. Para executar dinamicamente um Kata, três regras devem ser lembradas e observadas: 1. o uso correto da força; 2. a velocidade do movimento, lento ou rápido; 3. a expansão e contração do corpo. Abeleza, a força e o ritmo do Kata dependem desses três fatores.
5. No início e término do Kata, a pessoa faz uma inclinação. Isso faz parte do Kata. Ao fazer sucessivos exercícios de Kata, incline-se no começo e ao terminar o último kata.
Obs : A palavra KATA não tem plural , só deve ser escrita no singular mesmo que falemos de mais de um kata

Os Kata do Shotokan:

HEIAN: (Paz e Tranqüilidade): Há cinco formas de Heian (shodan, nidan, sandan, yondan, godan), contendo uma grande variedade de técnicas, sendo quase todas relacionadas a posturas básicas. Alguém que tenha aprendido estas cinco formas pode estar seguro que é capaz de defender-se com muita habilidade na maioria das situações. O significado do nome deve ser levado em consideração neste contexto. Visto que os heian são derivações de um kata mais avançado (Kanku Dai).Os Heians são aprendidos nas faixas iniciais, sendo o Heian Shodan geralmente o 1º Kata que se aprende no karate shotokan ainda na faixa branca, é seguido pelos Katas: Heian Nidan (faixa amarela), Heian Sandan (faixa vermelha), Heian Yondan (faixa laranja) e Heian Godan (faixa verde), na faixa roxa geralmente se aprende alguns kata superiores.
TEKKI: (Cavaleiro de Ferro) ou (Andar a Cavalo): (Há três formas. shodan, nidan e sandan). O nome refere-se a característica distinta deste Kata que é sua postura Kiba-dachi, como montar a cavalo. Neste as pernas são fortemente posicionadas bem abertas, como se fosse para sentar no dorso de um cavalo, e a tensão é aplicada nas bordas externas das solas dos pés com a sensação de concentrar a força em direção ao centro, sendo praticado para o desenvolvimento do kime (força).
BASSAI: (Romper a Fortaleza) ou (Atravesar a Fortaleza): É um kata que reuni as principais técnicas básicas do karatê Shotokan. Este sugere o confronto contra um adversário superior, que não tenha pontos fracos (fortaleza), no qual o praticante terá que superar os seus próprios limites para conseguir a vitória. Há duas formas de Bassai (Dai,e Shô). Sendo que a forma Sho foi desenvolvida pelo mestre Funakoshi.
KANKU: (Olhar Para O Céu) ou (Contemplar o Céu): O nome deste Kata derivou-se originariamente do mesmo introduzido por Ku Shanku, integrante do exército Chinês. O nome refere-se ao primeiro movimento do Kata, no qual levanta-se as mãos e olha-se para o céu. Há duas formas de Kanku (Dai e Shô), um curta e outra longa, o Kanku Dai é um kata que tem um pouco de cada heian (Shodan, Nidan, Sandan, Yondan e Godan), e é um dos katas mais longos do Shotokan, o Kanku Sho foi desenvolvida pelo mestre Funakoshi.
JITTE: (Dez Mãos) ou (Dez Técnicas): Nas formas remanescentes pertencem ao estilo Shorei, os movimentos são um tanto mais pesados quando comparados àqueles do estilo Shorin. A postura é bastante audaz. Proporcionam um bom condicionamento físico, embora sejam difíceis para iniciantes. O nome Jitte sugere que alguém que tenha aprendido este Kata é tão eficiente como cinco homens de uma só vez.
HANGETSU: (Meia-Lua): Nos movimentos para frente, neste Kata, são descritos semicírculos com as mãos e os pés de maneira característica, sendo seu nome derivado deste fato. Um das grandes características é a respiração, sendo devidamente trabalhada de forma sincronica com os movimentos.
ENPI: (O Vôo Da Andorinha): A movimentação característica deste Kata é o ataque a um nível mais acima do solo. Na seqüência segura-se o opoente e o induz a permanecer em uma posição específica, simultaneamente avançando e atacando novamente. O movimento representa o vôo rápido e ágil da andorinha. Sem dúvida um dos katas mais rápidos do estilo.
GANKAKU: (O Grou Sobre a Rocha): A característica deste Kata é a postura em uma só perna que ocorre repetidamente. Representa a visão esplêndida de uma garça pousada em total equilíbrio em uma pedra, prestes a lançar-se sobre a sua vítima.
JION: (Amor e Gratidão): Este é o nome original e tem aparecido freqüentemente na literatura chinesa desde os tempos antigos. O Jionji é um famoso velho templo Budista, e há um santo Budista bastante conhecido chamado Jion. O nome sugere que o Kata tenha sido introduzido por alguém identificado com o Templo Jion, assim como o nome Shorin-ji Kempo deriva de uma relação com o Templo Shorin. É um kata de base pesadas.
CHINTE: (Mãos Estranhas) ou (Técnicas Estranhas): Possui este nome por conta de técnicas não tanto comuns, (dedo nos olhos) e coisas do género. Este trata de uma situação que o oponente tem uma vantagem física, tornando necessário atacar em ponto do corpo onde não haja vantagem física.
UNSU: (Mãos e Nuvens):O Kata com o estilo do Dragão por Mestre Aragaki. Onde ele o treinou não se tem conhecimento, mas as grandes influências Chinesas neste Kata sugerem que tenha sido certamente em continente chinês. O nome usado em Okinawa é Unshou e significa "Defesa Contra A Nuvem", ou seja, mesmo se seus inimigos cercarem você como uma nuvem, com certeza você os vencerá se tiver aprendido o Unsu. Este é sem dúvida o kata mais curioso do estilo Shotokan, possuindo técnicas das mais variadas formas, das mais simples as mais complexas, sendo somente indicado a praticantes de alto nivel técnico.
SOCHIN: (Espírito Inabalável): Este nome sugere que o praticante que o domine não temerá nada. É um kata de bases bastante pesadas primando para um bom desenvolvimento da base, postura e força.
NIJUSHIHO: (Vinte e Quatro Passos): Um kata bem complexo apesar da pouca quantidade de movimentos. Este faz um rápida mudança de direção e um grande variação de técnicas de defesa e contra-ataque.
GOJUSHIHO: (Cinquenta e Quatro Passos): Há duas formas de Gojushiho (Dai e Shô)sendo estes uns dos maiores katas do estilo shotokan. Neles existem técnicas bem singulares não sendo vistas em nenhum outro kata shotokan.
MEIKYO: (Espelho Limpo) ou (Espelho da Alma): Este é um Kata muito misterioso. Presume-se que os japoneses o conheciam muito antes que Mestre Funakoshi tenha introduzido o Karatê de Okinawa no Japão. Há até mesmo uma lenda japonesa a respeito de Ameratsu, a deusa do sol. Ela havia perdido seu espelho e não podia admirar-se, ficando muito aborrecida. Desta maneira, o mundo ficou nas trevas. Finalmente os outros deuses decidiram que alguma coisa deveria ser feita, então enviaram um grande guerreiro para realizar a "Dança da Guerra" do lado de fora da caverna. A "Dança Da Guerra" foi nomeada Meikyo. Meikyo é traduzido como "O Espelho da alma". O nome antigo para Meikyo era Rohai, o qual está agora voltando a ser usado.
JIIN: (Amor e Proteção): Este segue o mesmo principio do JION, sendo um kata de base pesadas e sempre visando uma melhor postura do praticante.
WANKAN: (Coroa Real):Este Kata era conhecida no passado pelo nome de Shiofu e Hito que significava a Coroa do Rei. É a Kata mais curta do Karatê Shotokan, só com um Kiai. Como não fazia parte do grupo inicial de katas introduzidas por Gigin Funakoshi no Japão, é geralmente aceito que foi o filho Yoshitaka Funakoshi que a introduziu no Shotokan, numa nova versão, por si trabalhada e modernizada. Devido a sua dimensão existe a ideia que é um kata inacabado, cujo desenvolvimento foi interrompido com a morte precoce de Yoshitaka Funakoshi. Esta tese ganha significado já que as versões actualmente existentes em outros estilos de Okinawa, são bastante mais compridas.É Um kata sem duvida singular, contendo técnicas básicas e avançadas como torções. É o menor do estilo shotokan.

O que é Karate-Do Tradicional

O Karate-Do Tradicional é uma arte marcial originada a partir das técnicas de defesa pessoal sem armas de Okinawa, e tem como base a filosofia do Budo japonês. Os objetivos do Karate-Do Tradicional são definidos pela filosofia do Budo, que se traduz na busca constante pelo aperfeiçoamento pessoal, sempre contribuindo para a harmonização do meio onde se está inserido. Através de muita dedicação ao trabalho, treinamento rigoroso e vida disciplinada, o praticante de Karate-Do Tradicional caminha em direção dessas metas, formando seu caráter, aprimorando sua personalidade.
Nesse sentido, pode-se afirmar que o Karate-Do Tradicional contribui para a formação integral do ser humano, não podendo, portanto, ser confundido com uma prática puramente esportiva. "Tradição é um conjunto de valores sociais que passam de geração à geração, de pai para filho, de mestre para discípulo, e que está relacionado diretamente com o crescimento, maturidade, com o indivíduo universal."
Cada pessoa pode ter objetivos diferentes ao optar pela prática do Karate-Do Tradicional, objetivos estes que devem ser respeitados. Cada um deverá ter a oportunidade de atingir suas metas, sejam elas tornar-se forte e saudável, obter autoconfiança e equilíbrio interior ou mesmo dominar técnicas de defesa pessoal. Autocontrole, integridade e humildade resultarão do correto aproveitamento dos impulsos agressivos existentes em todos nós. A famosa expressão do mestre Gichin Funakoshi - "Karate Ni Sente Nashi" - define claramente o propósito anti-violência do Karate-Do Tradicional: "No Karate não existe atitude ofensiva".
"Se o adversário é inferior a ti, então por que brigar? Se o adversário é superior a ti, então por que brigar? Se o adversário é igual a ti, compreenderá, o que tu compreendes... então não haverá luta. Honra não é orgulho, é consciência real do que se possui."
Karate-Do Tradicional também pode ser visto como uma ótima ferramenta de manutenção da saúde, uma vez que suas técnicas contribuem para a formação de hábitos saudáveis como os cuidados com a postura, a respiração com o diafragma e a meditação Zen. Entende-se como saúde não só o estado de "ausência de doenças", mas também o bem-estar físico, mental e espiritual do ser humano.
Como defesa pessoal, o Karate-Do Tradicional mostra eficiência e eficácia em suas técnicas, possibilitando ao lutador defender-se de qualquer tipo inimigo. No entanto, mais que um simples conjunto de técnicas, o Karate-Do Tradicional ensina ao seu praticante algo muito além do confronto físico, que é a intuição e o discernimento perante uma situação de perigo, permitindo ao lutador captar a intenção do adversário, avaliar a situação e tomar uma atitude correta e consciente.
O verdadeiro valor do Karate não está em sobrepujar os outros pela força física. Nesta arte marcial não existe agressão, mas sim nobreza de espírito, domínio da agressividade, modéstia e perseverança. E, quando for necessário, fazer a coragem de enfrentar milhões de adversários vibrar no seu interior. É o espírito dos samurais.
A competição no Karate-Do
A busca de vitórias em competições não é o principal objetivo do Karate-Do Tradicional. As competições são um meio que permitem ao praticante de Karate-Do Tradicional fazer uma autoavaliação técnica e emocional. Vencer ou perder numa competição não é o mais importante, o relevante é o crescimento como lutador e como pessoa que ela proporciona.
O que se exige dos lutadores numa competição de Karate-Do Tradicional é a eficiência na execução dos movimentos, ou seja, a dinâmica corporal utilizada para se aplicar os golpes, e não tão somente a velocidade ou o contato. Não basta acertar o alvo, é preciso fazê-lo da forma correta, baseado nos fundamentos técnicos do Karate-Do Tradicional. Isso exige um grande domínio físico e mental, e também estimula a busca pelo aperfeiçoamento pessoal e pelo refinamento da técnica. "Perder-se na beleza dos movimentos ou apenas buscar pontos numa luta não levam à perfeição!"
Numa competição de Karate-Do Tradicional não há divisão de pesos. O lutador cujo físico é pequeno poderá vencer o grande, se estiver bem preparado. Ele deverá estar disposto a enfrentar qualquer adversário, seja qual for o seu tamanho.
As modalidades de competição são:
Kata individual - Apresentação individual de kata: Durante as fases eliminatórias, dois competidores executam o mesmo kata (que é escolhido pelo árbitro central) lado a lado, e o vencedor é aclamado pelos árbitros através de bandeiras. Na fase final, os competidores apresentam-se um de cada vez, executando o kata de sua escolha, e a decisão é tomada pela média das notas de todos os árbitros, descontando-se desta a maior e a menor nota.
Kata em equipe - Apresentação de kata e respectiva aplicação (bunkai) em equipes de três pessoas: Após a apresentação do kata, a equipe deverá apresentar uma aplicação para as técnicas do kata escolhido. A decisão é sempre tomada por nota.
Kumite individual - Combate individual.
Kumite em equipe - Combate em equipes de cinco pessoas: A cada luta são somados os pontos de cada lutador aos pontos de sua equipe. Será vencedora a equipe que obtiver o maior número do pontos ao final da última luta.
Enbu - Teatro marcial: Apresentação de aplicações de técnicas de Karate em duplas. A decisão é tomada por nota dos árbitros.
Fuku Go - Disputa individual que engloba kata e kumite, alternando a cada rodada: A ITKF instituiu o Kitei como kata oficial das competições de Fuku Go, para permitir as disputa direta (lado a lado) de competidores de estilos diferentes.
O Dojo e a conduta do Karateca
Os rituais em todos os Dojo propõem aos praticantes uma série de atitudes e gestos que facilitam as relações entre eles deixando claro o desejo comum de obedecer a uma ordem válida para toda a comunidade e para cada um. A intenção do praticante é sempre a de estimular o progresso na arte de todas as pessoas sem perder o desenvolvimento individual.
A prática de karate está repleta de exercícios marciais, combativos, porém com um total espírito de conciliação, buscando a vitória pela harmonia, pela paz, procurando esquecer as atitudes egoístas e pensando sempre no grupo e como sendo parte dele. O karateca treina com seu companheiro com todo respeito e consideração, pois o considera como parte de si mesmo e sem o qual não há treinamento. Daí ser fundamental tratar o companheiro com cortesia e agradecimento por ele dá a possibilidade de você treinar e de aprender com ele. Ao professor, se deve o respeito e o agradecimento pela transmissão dos conhecimentos e pela dedicação e esforço em ensinar segredos que foram por muitos séculos restritos a uma minoria privilegiada. Respeitar e se fazer respeitar é uma das regras mais importantes durante os treinamentos. Conciliar e nunca confrontar é o princípio básico. Esquecer-se da palavra “eu” e substituí- la pela palavra “nós” é a essência do ensinamento. Outro ponto fundamental é que não se treina karate, mas sim, para a vida. Portanto, fica claro ao praticante e ao grupo que o fundamental não é vencer, não é derrubar, não é ser o mais forte, mas descobrir o potencial individual, o centro das ações e se, ele não for o centro, colocar-se em uma de suas órbitas, de acordo com suas reais condições.

O Dojo

O lugar onde se pratica Artes Marciais é denominado “Dojo”, esta palavra foi emprestada do Zen Budismo, significando “Lugar de Iluminação” (onde os monges praticavam a meditação, a concentração, a respiração, os exercícios físicos e outros mais). A palavra dojo significa literalmente:
DO – Caminho, estrada ou trilha (sentido espiritual); JO – Lugar (espaço físico).
Algumas pessoas referem-se à academia de karate como um dojo, porém as duas coisas são diferentes. A palavra dojo somente se refere ao espaço físico onde ocorre o treino de karate (leia-se arte marcial japonesa), enquanto academia se refere ao local onde se pratica karate. Portanto, o dojo é o lugar onde se pratica o “caminho”.
Alguns podem perguntar sobre qual o caminho que se pratica em um dojo, a resposta vem, mais uma vez, do Budismo (mais precisamente do Zen); O homem deve despertar em meio às questões de todos os dias, vivendo intensamente no presente e concedendo atenção integral às coisas do cotidiano, para, desta maneira, retornar à naturalidade de sua natureza, conforme ditado Zen:
“Antes de estudar Zen, as montanhas são montanhas e os rios são rios. Enquanto estuda Zen, as montanhas deixam de ser montanhas, os rios deixam de ser rios. Uma vez alcançada a iluminação, as montanhas voltam a ser montanhas e os rios voltam a ser rios”.
Isto quer dizer que um pintor alcança a felicidade pintando, um médico realizando cirurgias e um karateca praticando karate.

O Cumprimento

Uma demonstração tradicional de cortesia é o cumprimento, isto tanto é verdade que ele é realizado no início e no final da aula de frente para o Shomen (forma de agradecimento àqueles que desenvolveram a arte). Ao cumprimentar, você deverá olhar para baixo e não na face do seu oponente – olhar na face de alguém durante um cumprimento é sinal de falta de confiança. O cumprimento pode ser feito de duas maneiras distintas:

RITSU REI – cumprimento em pé; ZAREI – cumprimento sentado (SEIZA).

A maneira correta de se cumprimentar é, partindo-se da posição natural (SHIZENTAI), curvar o corpo apenas em 30o e segurá-la por meio segundo e retornar a posição ereta (ritsu rei). O cumprimento deve acontecer nas situações a seguir:
1- Quando entramos ou saímos do dojo;
2-Quando o professor entra ou sai do dojo;
3- No início e final de um combate;
4- No início e final da aula.
5- No início e final de um kata;
6- No início e final de um exercício com um companheiro.
O Zarei é realizado a partir da posição Seiza (o praticante senta-se sobre seus calcanhares e quando o fizer deverá abaixar sua perna esquerda e em seguida a direita, colocando o dedão do pé esquerdo sobre o do direito, ao levantar-se ocorre à inversão), inclinando-se o corpo e as mãos descem suavemente das coxas para o chão, formando um triângulo onde a testa tocará.

Kiai

O kiai ou “grito de força” – KI: força e AI: grito – é uma energia que nasce a partir do baixo ventre (saika tanden – aproximadamente cinco centímetros abaixo do umbigo). Todos têm um grito de força, principalmente os grandes felinos. Geralmente, esses animais paralisam suas presas com o seu kiai antes de atacá-las. O kiai pode ser aplicado em três momentos.
1-No início de uma atividade;
2-Durante a realização desta tarefa;
3-Final de um trabalho;
Os gritos de guerra servem para aumentar, acelerar e expor a força de ação do homem. Portanto, podem ser aplicados contra incêndios, vendavais e as fortes ondas marítimas para criar coragem e energia para enfrentá-los. Na luta individual, para colocar o adversário em movimento, o grito antecipa seus golpes e, em seguida, pode se aplicar chutes e socos. Não é necessário utilizar o grito simultaneamente com seus golpes. No decorrer da luta, ele servirá para incentivar e colocar numa situação vantajosa, sendo forte e profundo. Tomar precaução ao gritar, pois se o grito for usado fora de ritmo ou de tempo ou em ocasiões impróprias poderá surgir como contra-efeito, tornando-se prejudicial. No Japão há a prática do Kiai Do – caminho do grito da força – onde o praticante chega a ter medo do próprio grito.

Katas - nomes e significados de alguns katas

Heian-shodan - "Paz (Hei)e tranqüilidade(an)" /kata básico, desenvolvido para treinamento e aperfeiçoamento de técnicas básicas;

Heian-nidan - "Paz (Hei)e tranqüilidade(an)" /kata básico, desenvolvido para treinamento e aperfeiçoamento de técnicas básicas;

Heian-sandan - "Paz (Hei)e tranqüilidade(an)" /kata básico, desenvolvido para treinamento e aperfeiçoamento de técnicas básicas;

Heian-yondan - "Paz (Hei)e tranqüilidade(an)" /kata básico, desenvolvido para treinamento e aperfeiçoamento de técnicas básicas;

Heian-godan - "Paz (Hei)e tranqüilidade(an)" /kata básico, desenvolvido para treinamento e aperfeiçoamento de técnicas básicas;

Tekki-Shodan - "Cavaleiro de ferro" (tetsu=ferro, Ki=cavaleiro) Kata básico desenvolvido para fortalecimento de base. Aprimora a capacidade de gerar força em golpes na base kibadachi. Referência à força que deve possuir o karateca na base, nos golpes e no espírito (concentração);

Tekki-nidan - "Cavaleiro de ferro" (desenvolvido pelo mestre Itosu a partir do Tekki) - segundo kata da série tekki.

Tekki-sandan - "Cavaleiro de ferro" (desenvolvido pelo mestre Itosu a partir do Tekki) - terceiro kata da série tekki.

Jiin - "Lugar de piedade", "Na sombra da bondade" (ji=amor universal, delicado, gentil, in=sombra);

Jion - "Gratidão e piedade", nome de templo budista (ji=amor universal, delicado, gentil; on=amor, benevolência, bondade)/ kata onde se demonstra maturidade e equilíbrio espiritual na aplicação dos movimentos, diferencia do Bassai e Kanku onde se demonstra grande força física e espiritual;

Jutte(jitte) - "dez mãos"(ju-dez,te=mão)/ técnicas contra ataques de bastão;

Meikyo - "espelholimpo"(mei=claro,kyo=espelho);

Nijushiho - "vinte e quatro movimentos" treina alternância de força seguida de suavidade, velocidade seguida de lentidão;

Sochin - "paz inabalável" (so=robusto, vigor, enérgico, chin=suprimir, ficar calmo),"criando raízes";

Gojushiho-dai - "54 movimentos" forma longa

Gojushiho-sho - "54 movimentos" forma curta

Hanguetsu - "meia-lua" (han=metade, meio, guetsu=lua)/trabalha técnicas de respiração lenta e movimentos em meia lua;

Gankaku - "Grou sobre a rocha" (gan=rocha, kaku=a garça sobre);

Enpi - "O vôo das andorinhas" (en=pássaro, pi=vôo);

Chinte - "técnicas estranhas", "mãos estranhas" (chin=estranho, esquisito, te=mão)/ treina técnicas de mão que devem ser suficientes para livrar o karateca de ataques de lutadores mais fortes que ele;

Unsu - "nuvem e mãos"(un=nuvem, su=mão)/destinado a karatecas de alto nível, seu domínio indica que o karateca está preparado para qualquer tipo de acontecimento;

Wankan - "coroação do rei"(wan=rei, Kan=corvo);

Bassai - dai - "Atravessar a fortaleza" - forma longa (ver abaixo artigo sobre a história do kata bassai dai;

Bassai-sho - "Atravessar a fortaleza" - forma curta desenvolvido pelo Mestre Itosu a partir da forma básica Bassai, possui técnicas contra golpes de bastão;

Kanku-dai - "mirando o sol, universo" - forma longa(Kan=olhar,ku=nada,vazio, céu)/ Junto com as técnicas do Bassai-dai constitui os kata mais característicos do Shotokan treina a superação que o karateca tem que fazer dos seus próprios limites para conseguir vencer mais de 8 adversários, é o maior kata shotokan.Busca desenvolver a compreensão de Kyo - falha mental e física e jutsu - alerta;

Kanku-sho "mirando o sol, universo" forma curta.

Heian Nidan Fotos - Mestre Guichin Funakoshi











Heian Nidan Fotos - Mestre Guichin Funakoshi



Heian Nidan

O Pai do Karate Moderno






Gighin Funakoshi nasceu em 10 de novembro de 1868 em Yamakawa, Shuri, Distrito de Okinawa. Ele pertenceu a uma linhagem de samurais, cujo os familiares, em tempos remotos, foram vassalos dos nobres da Dinastia Ryukyu.
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Aos 11 anos, com seu próprio esforço, ele fez nome na arte marcial no estilo RyuKyu. Começando seu treinamento com o Mestre Azato Anko, não demorou até que ele igualasse sua habilidade à de seu mestre, e dividiu com ele a honraria de ser o “mais completo” praticante dessa arte marcial em sua região. Ele também aprendeu Karate-jutsu (escrito com ideogramas que significam “Arte Marcial Manual Chinesa”) com o Mestre Itosu Anko. Os dois professores ficaram impressionados com sua nobreza de caráter.
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Ao longo dos anos ele se esforçou em seus treinamentos e desenvolveu suas notáveis habilidades continuadamente. Mestre Funakoshi tornou-se presidente da Sociedade de Artes Marciais de Okinawa e instrutor na Escola de Okinawa. Então em 1922, já com 54 anos de idade, ele introduziu ao Ministro da Educação do Japão o Karate-jutsu de Okinawa. Este evento, que foi a primeira demostração pública no Japão, foi um grande sucesso. Agora, o antes desconhecido Mestre Gichin Funakoshi ganhou notoriedade instantânea no ciclo das Artes Marciais japonesas.
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Imediatamente o fundador do Judô moderno, Jigoro Kano, convidou o Mestre Funakoshi e seu pupilo Shinkin Gima para uma demostração de Kata no Dojô Kodokan. A maciça presença do público lotou o dojô Kodokan. Foi tamanho o sucesso que o Mestre Funakoshi encontrou-se pressionado por todos os lados a permanecer em Tokyo.

Dr. Jigoro Kano, o fundador do Judô que foi amigo do Mestre Funakoshi
e deu suporte ao Karate no momento de sua entrada no Japão.
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Animado com a oportunidade de promover amplamente a arte marcial que ele tanto se esforçou para introduzir no Japão, Mestre Funakoshi em seguida começou a ensiná-la no Meiseijuku de Tokyo, um dormitório para estudantes oriundos de Okinawa. Ainda em 1922, ele publicou o livro intitulado “Ryukyu Kempo Karate”. Foi a primeira documentação da arte Karate-jutsu no Japão. Seu livro era original e muito bem escrito, e imediatamente causou um frisson sem precedentes em torno do Karate.
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Devido ao aumento da popularidade do Karate-jutsu, Mestre Funakoshi criou o primeiro ranking de graduação (Dan) em abril de 1924.
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Na mesma época, com o incentivo de seu professor de Budismo, Gyodo Furukawa, do Templo Enkakuji, em Kamakura, Mestre Funakoshi começou a praticar Zen-Budismo. Ele refletiu sobre o conhecido ensinamento budista que diz: “form is emptiness and emptiness is form”*. Ele percebeu a importância desse ensinamento para sua arte marcial, e finalmente mudou os ideogramas de Kara + te (“Chinesa” + “mão”) para Kara + te (“vazia” + “mão”)**.

Então, com a finalidade de consolidar a arte marcial de Okinawa em todo o Japão, Mestre Funakoshi compilou um completo sistema de técnicas e teoria, e padronizou os nomes do kata em japonês (antes era utilizada uma mescla de termos extraídos do Chinês e do dialeto local de Okinawa). Em 1929, após muita reflexão, ele também mudou o nome de Karate-jutsu (arte marcial manual chinesa) para Karate-do (o caminho das mãos vazias). Ele então definiu os ‘20 Preceitos do Karate' e estabeleceu a grande filosofia do Karate.
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Finalmente, o Karate tomou um caminho próprio e estava ganhando popularidade por todo o Japão. O número de pessoas que desejavam começar a treinar crescia diariamente - tanto que se tornou difícil acomodar os alunos. Então, em 1939, Mestre Funakoshi fundou o Dojô Shotokan, construído com seus próprios recursos. (“Shoto” foi o primeiro pseudônimo utilizado em seus textos e poemas. “Shoto” significa “Ondas do Pinheiro” e remete ao som provocado pelo vento nos pinheiros, que lembra o som de ondas do mar.)
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Nesse período, Mestre Funakoshi ensinou Karate a estudantes do colegial e de universidades. Como resultado, surgiram clubes de Karate nas instituições de ensino superior do Japão – o que é uma das razões de o Karate ter alcançado o respeito que tem hoje.
Com os ataques aéreos durante a 2ª Guerra Mundial, o Dojô Shotokan foi destruído e o crescimento do Karate foi abalado. Mas, depois da guerra, os seguidores de Funakoshi se reagruparam e, em 1949, eles formaram a Associação Japonesa de Karate (JKA), com Gichin Funakoshi como Supremo Mestre.

Em 10 de abril de 1957, o Ministro da Educação reconheceu oficialmente a JKA, e ela se tornou uma entidade legalmente instituída. Apenas dezesseis dias depois, com 89 anos de idade, Mestre Funakoshi faleceu. Um grande funeral público foi realizado no Ryogoku Kokugikan (Ginásio Nacional de Sumô), recebendo mais de 20 mil pessoas, incluindo vários nomes famosos que foram prestar homenagens.
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Um monumento em memória ao Mestre Funakoshi foi erguido no Templo Enkakuji, em Kamakura. Membros da JKA visitam o monumento todo ano, sempre no dia 29 de abril, dia do Festival Shoto.

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* A melhor versão do provérbio em português seria: “O vazio não tem forma, e ainda, não há forma com que o espaço vazio não se pareça”. E porque o vazio não tem forma ele pode conter tudo e pode se assemelhar a tudo.

** A título de esclarecimento, o ideograma “kara” possui mais de um significado (polissemia), podendo significar, dentre outras coisas, Chinês ou vazio, conforme o contexto.

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Fonte: Site da Associação Japonesa de Karate (JKA)
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Tradução do inglês: Rodrigo Ramthum e Ednei Ramthum

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Será o Kata um método eficaz para o treino de defesa pessoal?

André Bertel

Este artigo foi escrito por André Bertel, 6º Dan de karate Shotokan,
seguidor e discípulo do falecido Mestre Tetsuhiko Asai. André Bertel
possui muitos outros artigos, que poderão encontrar no seu blogue em
www.andrebertel.blogspot.com.
Escrito a: 26 de Julho de 2007
Traduzido por: Rui Silva

Oyo-jutsu: Será o Kata um método eficaz para o treino de
defesa pessoal?
Perspectivas acerca do valor dos kata
Existem muitas e diferentes perspectivas acerca do valor do kata no que diz respeito à
aquisição de técnicas de defesa pessoal eficazes e de habilidades de combate em geral. Alguns
reclamam que o kata é o coração do Karate, porém outros vêem o kata como uma completa
perda de tempo de treino. Na minha opinião, e pelo que ela vale, ambas as perspectivas têm o
seu valor e dependem completamente daquilo a que designamos por kata, e ainda mais
importante, da forma como é executado o treino físico do kata.
Eu não vou aqui explanar o estudo académico do kata, pois eu acredito que este só deve existir
como suporte para o treino físico, tal como para reforçar o treino de exercícios de cada um ou
para melhorar a metodologia de treino em benefício de outros.
Não nos deixemos iludir! Será mesmo o kata essencial para saber como
lutar?
Se formos inteiramente honestos, independentemente do quanto “tradicionais” somos, tornase
claro que o kata não é um pré-requisito para a luta de rua ou para eficácia na defesa. Além
de ser de senso comum, está indiscutivelmente comprovado pelo facto de existirem inúmeros
artistas marciais que não incluem o treino do kata nos seus respectivos regimes de treino.
Então, se os kata não são uma obrigação para desenvolver o poder de combate, porque é que
os vários estilos se importam com eles? E mais importante ainda, porque é que em muitos
casos, defendem que os kata são a parte principal do treino? Para compreender
profundamente e explorar estas questões, torna-se necessário compreender primeiro porque
é que os kata foram inicialmente desenvolvidos.
A história do kata
Obviamente que os mestres antigos pensaram que os kata teriam um objectivo bastante útil,
caso contrário, eles nunca os teriam concebido (para não falar na quantidade de kata que
foram criados). É dito que os especialistas em artes marciais inventaram os vários kata para
guardar e sintetizar as suas técnicas de combate chave, os seus princípios e tácticas. Eles
fizeram isto para que os seus conhecimentos marciais pudessem ser transmitidos às futuras gerações. O meu Sensei, Tetsuhiko Asai, defendia que “cada kata, é de facto um completo
sistema de artes marciais em si próprio”como por exemplo, o estilo Nijushiho ou o estilo
Sochin. Ele também defendia que, originalmente, os kata eram uma mistura de vários métodos
de combate não limitados pela definição moderna daquilo que é o Karate.
Esta definição moderna tem sido dramaticamente influenciada pelo Karate desportivo e
também na tentativa de distinguir o Karate das outras artes marciais, como o jujutsu ou o
muay thai, para não referir, estabelecer o Karate socialmente como uma “arte limpa, de socos
e pontapés entre cavalheiros”. Mas claro que, na realidade, combater é combater,
independentemente da arte marcial, estilo ou outra coisa qualquer. A história dos vários kata
ecléticos verifica isto, e ao fazer isso, mostra-nos como inteligentemente a “combinação de
treinos” não é certamente um conceito moderno.
Será o kata um meio eficaz para preservar as técnicas?
Na minha opinião, independentemente das variações entre estilos, e seguindo as preferências
de mestres como Masatoshi Nakayama, Gichin Funakoshi e Gigo Funakoshi, é inegável que o
kata tenha sido um meio de sucesso para preservar os respectivos conhecimentos (dos
expoentes bem conhecidos já falecidos). Gerações posteriores, nós karatecas modernos, ainda
mantemos registos destas técnicas altamente aperfeiçoadas e estratégias encriptadas nos
nossos kata. Do mesmo modo, o Sensei Asai, que faleceu recentamente, deixou-nos as suas
técnicas e conceitos especiais nos kata que ele próprio desenhou. Certamente que existirão
menos probabilidades do seu karate ser esquecido devido à existência destes kata, então aqui
temos um exemplo moderno!
Vamos ganhar alguns troféus de plástico para ficar bem!
Infelizmente, às vezes, e como resultado do Karate desportivo, o kata tem deixado de ser visto
como um registo de métodos de combate letais para uma luta real de defesa pessoal. Em vez
disso, é agora “geralmente considerado” como uma realização atlética ou estética, que pouca
ou nenhuma relação tem com o combate corpo a corpo. Seja qual for a forma como o kata é
percepcionado no ano 2007, as pessoas que desejem estudar o Karate como arte marcial,
podem ainda fazê-lo através do kata. Isto acontece pois o kata fornece uma conexão tangível,
de volta ao Karate como arte de combate, em vez de ser um desporto (ou mesmo ser
estritamente definido/rotulado como “Karate”). É aqui que podemos aceder não apenas às
técnicas comuns de Karate, mas também a um vasto conteúdo de ataques às cavidades,
cabeçadas, rasgo de olhos, manobras de luta no solo, estrangulamentos, deslocamento de
articulações, quebras de ossos, esquivas, projecções, e todos os outros elementos que fazem
dele um sistema de defesa pessoal “completo”.
Então como utilizar os kata para o treino marcial?
Para praticar Karate como uma arte marcial é necessário estudar activamente o kata, ao
contrário de apenas executá-lo como uma rotina de técnicas específicas. A minha crença
pessoal é a de que sem o estudo aprofundado da sua aplicação, a prática do kata perde todo o
sentido. No caso de alguém querer aprender Karate como defesa pessoal e que não trabalhe o
“kata com parceiro” (criando cenários reais) esse alguém irá estar a perder o seu tempo. E ao
praticar o kata simplesmente para este ficar bonito, não estamos a fazer mais do que Karate
desportivo, o que não oferece mais protecção do que a rotina de uma ginástica de solo (embora, a ginástica nos dê equilíbrio, agilidade, etc., que também é uma justificação prática
para o kata dentro do circulo do Karate tradicional). Não praticar aplicações eficazes de luta de
rua no kata, com um ou mais parceiros não basta para uma autêntica arte marcial.
O kata é o programa original
Devemos manter sempre em mente que o kata é o registo de estilos de combate que se
combinaram para formar aquilo a que hoje designamos de Karate. Então de facto, o kata é o
“programa original”. Está bem documentado que os mestres antigos apenas treinavam entre
um a três kata. Certamente que, se isto fosse apenas no desempenho preciso dos movimentos
exteriores, eles teriam treinado muitos mais exercícios de forma. Nós temos também que nos
questionar, porque é que neste caso, os kata individuais eram “sistemas de combate
completos”. Encaremos a realidade, sem o kata nós não teríamos um programa com o qual
trabalhar. Tudo o que os mestres do passado descobriram, inventaram, aprenderam,
utilizaram e ensinaram ter-se-ia perdido. O kata é o programa holístico do Karate e, para se
conseguir obter um sistema que não seja largamente inadequado para a defesa pessoal, temos
de pesquisar fisicamente esse sistema.
Os karatecas ignoram as aulas de kata
As técnicas e as estratégias do Karate de competição são inegavelmente inadequadas para
utilização prática fora da área desportiva confinada. Infelizmente, muitos karatecas ignoram as
aulas de kata e, portanto, inadvertidamente praticam o Karate como uma arte de combate
parcial. O que mais me alarma são os instrutores, que treinam e ensinam Karate desta forma
incompleta, mas ao mesmo tempo gabam-se de que o seu dojo ensina técnicas de defesa
pessoal eficazes. Pior ainda é que eles praticam bunkai semelhantes aos apresentados na
colecção de livros “O melhor do Karate” do Sensei Nakayama. Para dizer a verdade, eles às
vezes até têm “aplicações inovadoras”, mas estas são altamente ineficazes em combate real.
Mas eu calculo que é onde eles podem sempre utilizar a sua “grande desculpa do Karate”,
“Não me é permitido utilizar o meu Karate para combater”. Infelizmente, os tradicionalistas
são muitas vezes piores quando se trata de treino real, na medida em que passam o tempo
preocupados em mostrar-se pomposos relativamente à sua filiação Japonesa, graduações de
Dan e outras coisas semelhantes. Na minha opinião, qualquer aula de Karate que não inclua
uma parte de defesa pessoal prática é inútil. Não existe necessidade de sair para fora dos
conteúdos da Shotokan, mas simplesmente entrar neles e utilizar as lições que se encontram
encriptadas nos kata.
Apenas um comentário a isto: De acordo com comentários do Sensei Asai, eu acredito que as secções de
bunkai, nos fantásticos livros “O melhor do Karate” do Sensei Nakayama, serviram para “analisar” o
respectivo kihon no kata. Não foram a aplicação técnica ensinada no Hombu Dojo da JKA.
Terão os kata algum valor num regime de treino para defesa pessoal?
Existem essencialmente dois tipos de kata, kata invidual, como foi mencionado acima, e o kata
executado com um ou mais parceiros. No Karate Shotokan, a maioria dos praticantes associa o
termo kata ao treino individual de kata. O kata com parceiro é agora vulgarmente conhecido
como “kata-equipa”. É largamente aceite que os kata-equipa são métodos de treino válidos
para o desenvolvimento de habilidades de combate práticas. Mas o treino do kata individual é argumentado como sendo mais impiedoso no que diz respeito ao desenvolvimento do talento
para o combate. Parece fazer mais sentido praticar as técnicas com um parceiro ao contrário
de as treinar sozinho numa aparente “dança” rotineira. No que diz respeito ao treino das artes
marciais, o treino com parceiro, incluindo os combates, é inquestionavelmente mais eficaz do
que o treino do kata individualmente. Então porquê chatearmo-nos a praticar o kata sozinhos?
Aqui estão os meus cinco principais motivos para o treino do kata individual: Primeiro, sem o
treino do kata individual não teríamos um programa e portanto não teríamos acesso aos
conhecimentos aperfeiçoados que os nossos expoentes do passado desenvolveram. Segundo,
o kata individual é útil quando não temos um parceiro com quem treinar (podemos fazer o
kata em qualquer lado e a qualquer hora). Terceiro, podemos executar “todas as técnicas” do
kata com o máximo de velocidade (snap), mesmo as técnicas e manobras mais letais podem
ser realizadas com vigor (sem necessidade de magoar seriamente os nossos colegas de treino!
Podemos atingir o nível máximo no kata individual). Quarto, o kata individual torna o treino
individual mais motivador (é o que eu chamo o factor diversão). E finalmente, o kata
condiciona o corpo enquanto são analisados os princípios de combate (programa original) no
respectivo kata que está a ser treinado.
O kata individual é inferior, mas ainda assim extremamente valioso
Essencialmente, quando se treina Karate tradicional com propósitos marciais (combate/defesa
pessoal), a pratica do kata individual complementa o regime de treino global. O kata individual
irá reforçar bastante a aplicação das técnicas com um parceiro, irá colmatar o fosso existente
entre o kihon, o kata e o kumite, e certamente desenvolver habilidades para nos defendermos.
Nos dias de hoje o kata individual é também criticado como sendo uma alternativa ineficaz ao
treino de técnicas com um parceiro, e actualmente, como referi acima, estas críticas são
válidas. Gostemos ou não, o kata individual é uma “alternativa inferior”. No entanto, aqueles
que tecem estas críticas e tentam evitar o treino individual do kata treinando sempre com
parceiro, é porque não compreendem o papel do kata na rotina dos treinos. É também a
minha crença de que sem o treino individual do kata, aquilo que praticamos perde a sua
ligação histórica com o Karate. Portanto, se seguimos este caminho, não podemos
honestamente chamar Karate ao que fazemos. Embora, de uma perspectiva puramente
marcial, isto seja irrelevante.
Conclusão
Com este artigo eu não estou a sugerir que os Karatecas devam negligenciar o seu kihon em
favor da aplicação, devendo sempre co-existir as duas opções. Conforme dita o senso comum,
sem um kihon sólido e sem um desenvolvimento contínuo das técnicas do kihon (kihon-waza),
nada se consegue. Aperfeiçoar cada acção básica torna-se literalmente uma tarefa sem fim.
Os karatecas experientes não devem estagnar aperfeiçoando simplesmente a forma exterior.
O que não está mal nos níveis kyu mais baixos, mas quando se chega ao níveis de kyu mais
elevados, estes deverão possuir um nível de habilidades mais vasto para a sua protecção
pessoal. Eu gostaria de concluir dizendo que os kata Shotokan da JKA, ou seja, as suas
aplicações, fazem deste estilo uma arte marcial completa. O seu estudo e, mais importante
ainda, a sua prática como aplicação permitem preencher um vasto leque de lacunas
encontrado nos programas comuns da Shotokan.

Retirado do blogue: Andre Bertel’s Karate-Do em www.andrebertel.blogspot.com
Traduzido por: Rui Silva

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