Programa energético nacional prevê construção de quatro usinas; situação do país asiático pode influenciar na hora de decidir a localização das novas plantas
A crise nuclear enfrentada pelo Japão traz de volta o debate sobre a viabilidade da exploração da energia nuclear. O país asiático, que depende dessa fonte energética para suprir 40% da demanda, vive ameaça de contaminação por radiação depois que o complexo nuclear Fukushima Daiichi foi seriamente danificado pelo terremoto seguido por tsunami que atingiu a corta nordeste japonesa no dia 11 de março.
Países que dependem da energia nuclear começam a questionar a segurança das próprias usinas. Na Alemanha, a crise oriental incentivou o fechamento de sete reatores que entraram em atividade antes de 1980. Eles permanecerão fechados enquanto o país reavalia sua política de energia nuclear.
No Brasil, onde existem fontes energéticas cuja exploração não oferece riscos, o Programa Nuclear Brasileiro foi reativado no segundo mandato do ex-presidente Lula, com previsão de construir quatro novas usinas. Francisco Rondinelli, diretor da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), defende a energia nuclear como questão de segurança energética. ''Ainda está cedo para condenar a energia nuclear. Precisamos aguardar a solução da crise no Japão para podermos conversar com bases mais concretas'', argumenta.
A crise nuclear no Japão evidenciou os riscos da exploração das usinas. O senhor acha que a energia nuclear é realmente viável?
O setor nuclear e a sociedade estão acompanhando os desdobramentos da situação no Japão para poder discutir o tema com mais embasamento. A preocupação atual é suprimir a situação de risco imposta às usinas japonesas. Para isso, a engenharia nuclear projetou uma série de medidas. Acreditamos no funcionamento dessas medidas porque foi um evento externo: terremoto seguido de outros terremotos e um tsunami. Não foi uma falha das usinas, que até suportaram os tremores. O problema foi nas instalações periféricas. Os tanques de combustíveis dos geradores de emergência foram deslocados e o sistema não funcionou. A preocupação hoje é com o desligamento total da usina e o risco de qualquer liberação descontrolada de material radiativo para a atmosfera. O setor está acompanhando a evolução, com expectativa de que a engenharia projetada resolva o problema. É natural que haja questionamentos, mas, no momento, temos que aguardar o desfecho da situação no Japão.
O Programa Nuclear Brasileiro, que foi retomado no governo Lula, prevê a construção de quatro novas usinas no País. Como fica o programa depois da crise japonesa?
A retomada começou com o início de construção de Angra 3, pela necessidade de aumento na geração de energia no parque nacional. A usina precisa ser concluída, porque já recebeu investimentos. Angra 3 está localizada em um sítio que já comporta as outras duas usinas, Angra 1 e 2, cuja performance é excelente em termos de geração e onde nunca houve ocorrências de risco. Uma vez definido o planejamento energético do País, identificou-se a necessidade de uma complementação térmica, pois não dá para depender totalmente das usinas hidráulicas. Como o País não tem carvão, usamos gás, que é importado, e a geração nuclear, que entra como opção porque temos engenharia e tecnologia. É mais uma opção dentro da matriz energética do País.
A energia nuclear é realmente necessária ao Brasil ou apenas uma opção?
Países que têm potencial para usar energia nuclar vão fazer isso, porque é uma questão de segurança energética. Nós temos um potencial hidráulico que possa atender a 100% das necessidades do País? Atualmente não. Existe potencial, mas não conseguimos explorar 100% em função de instalações. Não se pode, também, confiar o sistema energético a uma só fonte. Nós temos disponiblidade de urânio, tecnologia em termos de engenharia e tudo mais para explorar a energia nuclear. Para que usar uma fonte externa se podemos garantir a nossa segurança com fonte própria? A discussão é técnica.
Quanto a produção de energia nuclear representa, hoje, diante do total produzido pelo Brasil?
São dois parâmetros. Em termos de potência instalada, a energia nuclear representa pouco menos de três por cento. O restante é gerado por energia hidráulica e outras geradoras térmicas, principalmente o gás. Em termos de fornecimento de energia, a nuclear representa cinco por cento, ou seja, é a segunda maior fonte de energia do País. A tendência, nessa matriz, é chegar a 70% de energia hidráulica e o restante gerado por outras fontes, entre elas a nuclear. Gás e biomassa também são opções. É possível, ainda, ter parques eólicos, mas eles não vão atender esses 30% sozinhos.
Qual o investimento previsto para finalização de Angra 3?
A previsão é de R$ 7 bilhões. Uma usina nuclear hoje custa em torno de US$ 3,5 bilhões a U$$ 4 bilhões e o custo de instalação e geração se iguala a qualquer outra fonte térmica, como energia solar e gás. Carvão é mais barato, mas não para nós, que não temos a matéria-prima.
Como fica a construção das outras três usinas previstas no Programa Nuclear Brasileiro após crise do Japão?
A construção dessas usinas encontra-se em fase de escolha do local. Essa vai ser uma discussão importante, em função do que está sendo questionado no Japão sobre a localização das usinas. De qualquer forma, o Japão não seria a sociedade que é hoje se não fosse a energia nuclear, que atende 40% da demanda. No Brasil, nesse momento, a crise vai acirrar a discussão sobre a localização, em paralelo ao debate sobre a opção pela energia nuclear. O programa não será atrasado porque a fase é de levantamento de sítios. Há locais projetados para o Nordeste e Sudeste, mas ainda estamos na fase de seleção.
Especialistas defendem que o sistema de segurança do complexo de Fukushima Daiichi, onde ocorreu o incidente, é ultrapassado. O senhor concorda?
É ultrapassado no sentido de que as novas usinas têm novos conceitos de engenharia para aumentar a segurança. Trata-se de um complexo de 40 anos. A usina que enfrentou problemas, inclusive, estava prevista para sair de operação neste ano. E, apesar de ter concepção antiga, foi possível contornar o problema razoavelmente graças à incorporação de novos sistemas. As medidas tomadas, pelo fato de o complexo ser ultrapassado, não permitirão a preservação da usina. Depois que o reator for preenchido com água do mar, ele nunca mais poderá ser utilizado. Numa situação como a enfrentada pelo Japão, a primeira preocupação é com a população e o meio ambiente. Sacrificar a usina é o custo de um sistema de segurança mais antigo.
E no Brasil, qual o modelo de segurança adotado?
A usina brasileira trabalha com tecnologia diferente, não há geração de vapor dentro do reator, apenas água a temperatura e pressão altíssimas. Essa água sai do reator e vai para um sistema secundário externo, um gerador de vapor que gira as turbinas. Por isso, é mais fácil controlar uma situação de risco. Além disso existe uma contenção de concreto, projetada para conter o material radiativo. Temos ainda quatro geradores a diesel para o caso de faltar energia. O sistema de segurança é sempre atualizado com novas tecnologias.
Países que dependem da energia nuclear começam a questionar a segurança das próprias usinas. Na Alemanha, a crise oriental incentivou o fechamento de sete reatores que entraram em atividade antes de 1980. Eles permanecerão fechados enquanto o país reavalia sua política de energia nuclear.
No Brasil, onde existem fontes energéticas cuja exploração não oferece riscos, o Programa Nuclear Brasileiro foi reativado no segundo mandato do ex-presidente Lula, com previsão de construir quatro novas usinas. Francisco Rondinelli, diretor da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), defende a energia nuclear como questão de segurança energética. ''Ainda está cedo para condenar a energia nuclear. Precisamos aguardar a solução da crise no Japão para podermos conversar com bases mais concretas'', argumenta.
A crise nuclear no Japão evidenciou os riscos da exploração das usinas. O senhor acha que a energia nuclear é realmente viável?
O setor nuclear e a sociedade estão acompanhando os desdobramentos da situação no Japão para poder discutir o tema com mais embasamento. A preocupação atual é suprimir a situação de risco imposta às usinas japonesas. Para isso, a engenharia nuclear projetou uma série de medidas. Acreditamos no funcionamento dessas medidas porque foi um evento externo: terremoto seguido de outros terremotos e um tsunami. Não foi uma falha das usinas, que até suportaram os tremores. O problema foi nas instalações periféricas. Os tanques de combustíveis dos geradores de emergência foram deslocados e o sistema não funcionou. A preocupação hoje é com o desligamento total da usina e o risco de qualquer liberação descontrolada de material radiativo para a atmosfera. O setor está acompanhando a evolução, com expectativa de que a engenharia projetada resolva o problema. É natural que haja questionamentos, mas, no momento, temos que aguardar o desfecho da situação no Japão.
O Programa Nuclear Brasileiro, que foi retomado no governo Lula, prevê a construção de quatro novas usinas no País. Como fica o programa depois da crise japonesa?
A retomada começou com o início de construção de Angra 3, pela necessidade de aumento na geração de energia no parque nacional. A usina precisa ser concluída, porque já recebeu investimentos. Angra 3 está localizada em um sítio que já comporta as outras duas usinas, Angra 1 e 2, cuja performance é excelente em termos de geração e onde nunca houve ocorrências de risco. Uma vez definido o planejamento energético do País, identificou-se a necessidade de uma complementação térmica, pois não dá para depender totalmente das usinas hidráulicas. Como o País não tem carvão, usamos gás, que é importado, e a geração nuclear, que entra como opção porque temos engenharia e tecnologia. É mais uma opção dentro da matriz energética do País.
A energia nuclear é realmente necessária ao Brasil ou apenas uma opção?
Países que têm potencial para usar energia nuclar vão fazer isso, porque é uma questão de segurança energética. Nós temos um potencial hidráulico que possa atender a 100% das necessidades do País? Atualmente não. Existe potencial, mas não conseguimos explorar 100% em função de instalações. Não se pode, também, confiar o sistema energético a uma só fonte. Nós temos disponiblidade de urânio, tecnologia em termos de engenharia e tudo mais para explorar a energia nuclear. Para que usar uma fonte externa se podemos garantir a nossa segurança com fonte própria? A discussão é técnica.
Quanto a produção de energia nuclear representa, hoje, diante do total produzido pelo Brasil?
São dois parâmetros. Em termos de potência instalada, a energia nuclear representa pouco menos de três por cento. O restante é gerado por energia hidráulica e outras geradoras térmicas, principalmente o gás. Em termos de fornecimento de energia, a nuclear representa cinco por cento, ou seja, é a segunda maior fonte de energia do País. A tendência, nessa matriz, é chegar a 70% de energia hidráulica e o restante gerado por outras fontes, entre elas a nuclear. Gás e biomassa também são opções. É possível, ainda, ter parques eólicos, mas eles não vão atender esses 30% sozinhos.
Qual o investimento previsto para finalização de Angra 3?
A previsão é de R$ 7 bilhões. Uma usina nuclear hoje custa em torno de US$ 3,5 bilhões a U$$ 4 bilhões e o custo de instalação e geração se iguala a qualquer outra fonte térmica, como energia solar e gás. Carvão é mais barato, mas não para nós, que não temos a matéria-prima.
Como fica a construção das outras três usinas previstas no Programa Nuclear Brasileiro após crise do Japão?
A construção dessas usinas encontra-se em fase de escolha do local. Essa vai ser uma discussão importante, em função do que está sendo questionado no Japão sobre a localização das usinas. De qualquer forma, o Japão não seria a sociedade que é hoje se não fosse a energia nuclear, que atende 40% da demanda. No Brasil, nesse momento, a crise vai acirrar a discussão sobre a localização, em paralelo ao debate sobre a opção pela energia nuclear. O programa não será atrasado porque a fase é de levantamento de sítios. Há locais projetados para o Nordeste e Sudeste, mas ainda estamos na fase de seleção.
Especialistas defendem que o sistema de segurança do complexo de Fukushima Daiichi, onde ocorreu o incidente, é ultrapassado. O senhor concorda?
É ultrapassado no sentido de que as novas usinas têm novos conceitos de engenharia para aumentar a segurança. Trata-se de um complexo de 40 anos. A usina que enfrentou problemas, inclusive, estava prevista para sair de operação neste ano. E, apesar de ter concepção antiga, foi possível contornar o problema razoavelmente graças à incorporação de novos sistemas. As medidas tomadas, pelo fato de o complexo ser ultrapassado, não permitirão a preservação da usina. Depois que o reator for preenchido com água do mar, ele nunca mais poderá ser utilizado. Numa situação como a enfrentada pelo Japão, a primeira preocupação é com a população e o meio ambiente. Sacrificar a usina é o custo de um sistema de segurança mais antigo.
E no Brasil, qual o modelo de segurança adotado?
A usina brasileira trabalha com tecnologia diferente, não há geração de vapor dentro do reator, apenas água a temperatura e pressão altíssimas. Essa água sai do reator e vai para um sistema secundário externo, um gerador de vapor que gira as turbinas. Por isso, é mais fácil controlar uma situação de risco. Além disso existe uma contenção de concreto, projetada para conter o material radiativo. Temos ainda quatro geradores a diesel para o caso de faltar energia. O sistema de segurança é sempre atualizado com novas tecnologias.
Carolina Avansini
Reportagem local
Reportagem local
Folha de Londrina
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