Em 1921, numa viagem do Príncipe Hirohito, a comitiva imperial acabou fazendo uma breve parada em Okinawa. Para receber o futuro Imperador, os uchinanchu (okinawanos) preparam uma grande recepção, onde, entre as atividades, estava prevista uma apresentação de Tode. Neste episódio, Gichin Funakoshi estava presente com seus alunos da escola municipal, deslumbrando o jovem príncipe com uma demonstração de Embu (luta combinada entre dois ou mais karatekas, uma espécie de coreografia).
As ótimas impressões causadas pela apresentação renderam aos okinawanos um convite para demonstrar o Tode no Japão continental, na ‘I Exibição Atlética Nacional’, evento promovido pelo Ministério da Educação do país. Naquela oportunidade, Funakoshi e seu grupo foram à Tóquio realizar uma nova demonstração para diversas autoridades do país e para o grande público.
Curioso, no episódio, foram os uniformes: hachimaki e camisetas (sim! T-shirts ocidentais!) brancas (apenas Funakoshi usou um uwagi branco), hakama pretos compridos até metade das pernas (que no período feudal designava os guerreiros de classe mediana) e longos bo.
Daí em diante Funakoshi não conseguiu mais retornar à Okinawa, sendo diversas vezes persuadido por vários grupos a permanecer no Japão ensinando Karate. Até no Instituto Kodokan, fundado por Jigoro Kano, Funakoshi-sensei permaneceu ensinando a pedido deste. Publicou ainda em 1922 seu primeiro livro: ‘Ryukyu Kempo: Karate’. Promoveu assim a mudança dos ideogramas que formavam a palavra Karate (em japonês, a pronúncia dos ideogramas para Tode também pode ser lida Karate), que significavam ‘Mão chinesa’, para Karate significando ‘Mãos vazias’. Buscava assim uma desvinculação ao país rival militar do Japão e se aproximando, assim, do Império nipônico.
Alguns anos depois, um fato acabaria estremecendo as relações entre dois grandes mestres do período: Gichin Funakoshi e Choki Motobu. Muitas lendas surgiram em torno de um episódio, onde Motobu teria derrotado um lutador russo que estava a desafiar e vencer diversos peritos em JuJutsu e outras artes japonesas em Tóquio. O que se sabe é que Motobu, já estabelecido no Japão Continental, aproveitando a onda de popularidade do Karate iniciada por Funakoshi e a falta de instrutores de Karate que suprissem essa demanda, estava em Tóquiio e acabou derrotando o lutador que, entre outras coisas, demonstrava técnicas do Sambo (uma luta de origem russa semelhante à luta livre), entortava barras de ferro no pescoço, etc. O acontecido conferiu grande fama à Motobu que passou a atrair muitos alunos.
O problema se deu quando a King Magazine publicou imagens de Funakoshi, e não Motobu, derrotando o russo. Choki suspeitou que Funakoshi fosse o mentor da alteração e teve grandes atritos com o fundador do Shotokan. De fato, em um de seus livros (Karate-Do Kyohan), Funakoshi afirma que em solo japonês só reconhecia outros dois estilos de Karate: o Goju-ryu de sensei Miyagi e o Shito-ryu de sensei Mabuni. No fim, era uma clara repulsa ao grupo de Motobu.
A partir daí diversos mestres okinawanos vieram ao Japão continental ensinar a arte e uma explosão do Karate aconteceu no país. Passados cerca de 20 anos da primeira exibição atlética onde o Karate surge para os nipônicos, se iniciava um processo de ‘modernização’ que buscaria aproximá-lo de práticas como o Judô e o Kendô, que já possuíam sistemas competitivos e eram amplamente praticadas em escolas em todo país. Apesar disso, o Karate sofreria um forte abalo, junto com tantas outras estruturas do Japão, devido aos acontecimentos da 2ª Guerra Mundial que assolaram todo o país.
“Nunca pronuncies estas palavras: “isto eu desconheço, portanto é falso“. Devemos estudar para conhecer; conhecer para compreender; compreender para julgar“. – Aforismo de Narada.
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