Os estudiosos estão em desacordo quanto à origem do batismo de João. Alguns (Robinson, Brown, Scobie) pensam que João adaptou as purificações dos membros da comunidade de Qumran para seu batismo de arrependimento. Scobie coloca bastante ênfase em uma passagem do Manual de Disciplina (1 QS 2:25-3:12), em que encontra indícios de uma ablução de iniciação (batismo).25 Entretanto, não fica totalmente claro que a comunidade de Qumran tivesse um batismo de iniciação diferente das demais. O contexto dessa passagem sugere as abluções cerimoniais diárias realizadas por aqueles que já pertenciam à seita. (Veja H. H. Rowley, “The Baptism of John and the Qumran Sect,” NT Essays (1959), 220 e ss. A. Dupont-Sommer, The Essene Writings from Qumran (1961), 76, cuja seção é intitulada “The annual Census” (O Censo Anual)) Permanece ainda a possibilidade de João ter adaptado as abluções diárias dos membros da comunidade de Qumran, transformando-as em um rito de significado escatológico que fosse realizado uma única vez, sem repetições.Há outros que encontram o contexto histórico do batismo de João no batismo judaico dos prosélitos. Quando um gentio abraçava o judaísmo, deveria submeter-se a um banho ritual (batismo), à circuncisão e oferecer sacrifícios. O problema é determinar se o batismo de prosélitos já existia naquela época do Novo Testamento. Esta afirmação é algumas vezes negada, (T. M. Taylor, “The Beginnings of Jewish Proselyte Baptism,” NTS 2 (1956),193-97.) mas em outras ocasiões é confirmada por especialistas na literatura judaica. (See H. H. Rowley, “Jewish Proselyte Baptism,” NUCA 15 (1940), 313-34. Veja também T. F. Torrance, “Proselyte Baptism,” NTS 1 (1954), 150-54.) Cima vez que a imersão de prosélitos é discutida no Mishnah pelas escolas de Hillel e Shammai, (Pes. 8:8. Veja Danby, The Mishnah (1933), 148) verificamos que a prática já era conhecida em um período bem próximo ao do início do Novo Testamento.
Alguns estudiosos argumentam que teria sido algo muito paradoxal se João tratasse os judeus como se fossem pagãos,(G. Bornkamm, Jesus of Nazareth, 47.) mas pode ser que a questão do batismo de João resida precisamente nesse ponto. A aproximação do Reino dos céus significava que os judeus não podiam encontrar segurança no fato de serem descendentes de Abraão; que os judeus, a não ser pelo arrependimento, não poderiam ter mais certeza do que os gentios de que entrariam no Reino vindouro; que ambos, judeus e gentios, deveriam se arrepender e manifestar seu arrependimento pela sujeição ao batismo.
Há alguns pontos de semelhança entre o batismo de João e o de prosélitos. Em ambos os ritos, no batismo de João e no de prosélitos, o candidato era imerso ou imergia-se completamente na água. Os dois batismos envolviam um elemento ético, pelo fato de que a pessoa batizada fazia um rompimento total com sua antiga conduta para dedicar-se a uma nova vida. Em ambos os casos, o rito era de iniciação, pois introduzia a pessoa batizada em uma nova comunhão: uma comunhão com o povo judaico e a outra no círculo daqueles que estavam preparados para participar da salvação do Reino messiânico vindouro. Ambos os ritos, em contraste com as purificações judaicas comuns, eram realizados de uma vez por todas.
Entretanto, existem várias diferenças entre os dois tipos de batismo. O batismo de João tinha um caráter escatológico, ou seja, sua raison d'être foi a de preparar os indivíduos para o Reino vindouro. É esse fato que torna o batismo de João impossível de ser repetido. A diferença mais notável é que, ao passo que o batismo de prosélitos era administrado somente aos gentios, o batismo de João era aplicado aos judeus.
É possível que o contexto histórico que explique a origem do batismo de João não seja nem o batismo da comunidade Qumran, nem o de prosélitos, mas simplesmente as abluções cerimoniais previstas no Antigo Testamento. Os sacerdotes eram obrigados a se lavarem em sua preparação para ministrarem no santuário, assim como exigia-se que o povo participasse de certas purificações em várias ocasiões (Lv. 11-15; Nm. 19). Muitas declarações proféticas, bem conhecidas, exortam a uma purificação moral por meio da purificação que era simbolizada pela água (Is.1:16 e ss.; Jr. 4:14), e outras antecipam uma purificação a ser feita por Deus nos últimos dias (Ez. 36:25; Zc. 13:1). Além do mais, Isaias 44:3 interliga a dádiva do Espirito com a purificação futura. Qualquer que seja o fundamento histórico, João dá um novo significado ao rito da imersão ao conclamar o povo ao arrependimento devido à aproximação do Reino dos céus.
FONTE: Teologia do Novo Testamento - Ladd, George Eldon.
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